quarta-feira, 18 de abril de 2012



ESCOLHER COM CORAGEM



Mais do que tudo é preciso ter a coragem de escolher. Dizem as velhas tradições que, perante um touro bravo, só há três caminhos: pegá-lo de caras, pegá-lo de cernelha ou fugir.
E a Educação neste país é não é rês mansa. Não por culpa, exclusiva, do Ministério, da sociedade, dos professores, dos sindicatos, dos pais, dos alunos. Por culpa de todos, não tanto por actos mas pela omissão de agir.
É mais cómodo fechar os olhos àqueles que desejam instrumentalizar a instituição educativa. A tutela, que nada faz para manietar aqueles que desejam o sucesso educativo a todo o custo, para o exibirem como troféu. Os sindicatos, que continuam a pôr à frente do que deveria ser a sua missão preconceitos ideológicos ou partidários. Os professores, que se aquietam perante a necessidade de agirem no sentido de impor a autoridade que ainda têm, que continuam a optar pelo espectáculo escolar e não pela promoção do conhecimento. Os pais (muitos, mas não todos, felizmente), que ainda não perceberam que a solução não está na facilidade mas na exigência. A sociedade, que continua a ver a Escola como bode expiatório e como caixote do lixo.
É preciso escolhermos todos de que lado queremos estar. Podemos fugir, é certo. Mas também podemos pegar o touro (de caras ou de cernelha) e melhorar um pouco este país.
O problema da Educação em Portugal não está nos cortes na despesa (ainda que injustos). O problema está no entretenimento, na ligeireza e no novo-riquismo que povoa muitos estabelecimentos, desmobilizando a melhor parte dos membros da comunidade educativa, afastando-os daquilo que é a sua missão: fazer crescer as crianças e jovens no conhecimento e na cidadania.
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Ser professor, desde sempre, implicou resistência. Formatados para formatarem, os professores tiveram sempre de resistir para não serem transformados em meras ferramentas de sistemas sociais, políticos e económicos que os têm visto como correias de transmissão de moldes de ser, de estar e de fazer. Ora, educar consiste, sobretudo, em formar cidadãos para uma Cultura interventiva e para uma Cidadania activa, ou seja, em fazer crescer para o usufruto da participação na Democracia. Instruir e educar são patamares diferentes numa mesma ascensão civilizacional e cultural.
Nos difíceis dias que correm, o professor tem de pôr em prática a sua capacidade de resistência múltipla. Num período histórico em que várias formas de autoritarismo e de despotismo tentam regressar envolvidas por um capote atraente (televisivo, publicitário, legislativo, etc.), o docente tem de ser "simples como as pombas, mas astuto com as serpentes" (para citar de memória uma passagem do "Evangelho segundo Tomé"). Só assim conseguirá cumprir eficazmente a sua missão.
Para isso, terá de gerir prioridades (diluindo, se necessário, todas as tarefas supérfluas que lhe são impostas para o distrair do essencial) e criar uma segunda pele que lhe permita viver e enriquecer-se enquanto pessoa. Sem Vida e sem Riqueza nunca passará de molde plástico que, a pouco e pouco, apagará a dignidade dos seres humanos que lhe passam pelas mãos, impedindo-os de serem livres na crítica e na actuação cívica.


Ruy Ventura



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