terça-feira, 17 de janeiro de 2012

DISCRETOS MENSAGEIROS

         Não seria o que sou hoje se não tivesse iniciado a minha actividade como escritor na comunicação social local e regional. Aí contactei com a importância da humildade no diálogo com os ouvintes e os leitores. Tornei sólida a minha convicção de que essas rádios e esses jornais estão entre os mais discretos (e os mais relevantes) mensageiros        de uma informação que se aproxima das pessoas e de uma parcela fundamental da Cultura do nosso país. Se outro valor não tivessem, bastar-lhes-ia serem talvez o único instrumento que vai dignificando os cidadãos mais esquecidos da nossa sociedade, essa "sociedade da informação" que informa pouco, entretém muito e manipula demais.
         É verdade que muita dessa comunicação social vive dentro de limites: limites no espaço da sua difusão, limites temporais e económicos de quem os põe de pé mês após mês, semana após semana, dia após dia, limites de quem procura dentro deles um equilíbrio local (sempre instável), em comunidades humanas quantas vezes fechadas, dominadas por caciques sinistros ou apenas ridículos, na procura (nem sempre conseguida) de uma informação regional não provinciana. Alguma dela chega a ser sufocada por interesses obscuros, movidos por gente muito duvidosa que procura transformar a imprensa escrita e falada em instrumento de poder, de autoritarismo e/ou de manipulação ideológica, em veículo de inveja, de mediocridade, de vingança e/ou de chantagem. Outros órgãos há, contudo, que são autênticos exemplos de heroísmo cívico, resistindo com todas as forças de quem os produz ao assalto anti-democrático e anti-ético de alguns figurantes que utilizam como arma de arremesso social a legitimação popular emanada de eleições, que tentam burlar uns e outros apresentando-se com uma pele que não lhes pertence, que se dizem defensores de uma paz (podre) que esconde apenas violência interior e cobardia. Indivíduos que usam esses meios para camuflarem as suas reais intenções: calar vozes incómodas, alimentar clientelas políticas e de outra índole, acabar com a qualidade para que a sua mediocridade nunca se revele, estupidificar para que a cidadania não passe dum chavão – e assim possam saciar a sua sede de domínio.
         Por tudo isto considero tanto a comunicação regional e local, pois tenho como certo e inegável o seu papel de discreta mensageira – veículo privilegiado de comunicação entre os membros de uma comunidade e desta com o exterior, edifício cujos pilares conseguem ligar à terra (ao húmus materno, humilde e religador) quantos nela residem ou quantos dela partiram em busca de outra dignidade, retrato-memória de um tempo local(izado), de uma identidade enraizada – "uma memória qualificada de um tempo e de um modo de viver", para utilizar a expressão feliz do poeta José do Carmo Francisco.
         Isto anda tudo ligado – dizia Eduardo Guerra Carneiro... Num mundo consumista em que os vigaristas de várias espécies não estão em vias de extinção, mas mostram sinais de infestação, num tempo em que a comunicação social se aproxima do inconcebível – contra a Ética e a Cidadania, a favor da chantagem e da destruição, procurando audiências a todo custo, nem que para isso seja preciso dar cabo da dignidade do Homem pondo em prática uma ditadura encapotada –, os jornais e as rádios regionais devem ser cada vez mais instâncias de qualidade e de dignidade. Concretizam assim uma missão: aproximar a informação do cidadão, não para o apagar na sua individualidade mas para o elevar; levar à mesa dos portugueses a verdadeira Cultura, aquela que ilumina e abre horizontes; estimular a criatividade individual e colectiva; levar ao crescimento espiritual; promover a liberdade de pensamento e de expressão; ajudar a construir – com estas e outras pedras angulares - uma sociedade justa e democrática.
                    

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