tag:blogger.com,1999:blog-27797070076215695382024-03-13T14:32:02.440-07:00Estrada do AlicerceRuy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.comBlogger35125tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-84986925564636073722014-06-30T06:36:00.002-07:002014-06-30T06:36:47.469-07:00
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;"><strong><span style="font-size: x-large;">A ARTE DE DESERTIFICAR<o:p></o:p></span></strong></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;">Já
lá vão mais de dez anos. A conversa estava animada num bar de província e
rondava o romance de um escritor alentejano, publicado com sucesso havia pouco
tempo. O ficcionista, afável, participava na discussão em pé de igualdade com
os seus leitores e, naquela noite quente, o seu livro era sobretudo um ponto de
partida para o que mais nos preocupava nas periferias da geografia portuguesa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;">Entre
cervejas e palavras, fomos reparando num cidadão vestido de negro como um
corvo, mal-barbeado e com chapeirão sinistro, refastelado numa poltrona coçada.
Ora <i style="mso-bidi-font-style: normal;">snob</i> ora exibindo um ar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">hippie</i> fora de prazo, ia dizendo das
suas sem que alguém se desse ao trabalho de lhe dar troco. Sentindo-se
ignorado, resolveu dar o ar da sua graça. Com sotaque lisboeta, no momento em
que todos expressavam o seu alarme pela desertificação dos distritos encostados
a Espanha, teve a delicadeza de arrotar um sonoro rabo de pescada: “<i>Eu cá
gosto muito do interior porque é deserto... Tem pouca gente... Assim é que é
bom!</i>” Incomodados, olhámo-nos em silêncio. Até que um dos presentes, com a
frontalidade que se reconhece nos bons alentejanos, resolveu responder ao
indivíduo: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Já cá faltava a fina-flor do
entulho… <span style="mso-bidi-font-style: italic;">O senhor diz isso porque é um
gajo amanhado, com dinheiro para ir à capital a bons médicos, para encontrar
por aquelas bandas o que aqui falta. E quem cá mora?</span></i>” O forasteiro
não retorquiu – nem poderia retorquir. E a conversa continuou, tornando-o
transparente, sobre as causas do suicídio no Alentejo. Chegámos à conclusão de
que o alentejano, quando perde a dignidade, mata-se, sacrifica-se. E quanta
dignidade lhe têm retirado, não só os forasteiros que “<i>gostam muito do
Alentejo</i>”, mas só sabem espezinhar quem por lá habita, mas também os
nativos que fomentam uma existência pequenina e dependente, de modo a exercerem
sem oposição o seu caciquismo político e económico e a tornarem invisível a sua
mediocridade social e cultural.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;">Tenho
recordado nos últimos tempos a conversa do tal <i>hippie</i> fora de prazo ao
confrontar-me com tantas medidas que os últimos governos têm vindo a publicar
em <i><span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Diário da República</span></i>.
Quem as lê de um condomínio de luxo decerto fica agradado. Encerrar escolas é
bom, segundo afirmam, pois colocará todos os alunos num só edifício com condições
melhoradas e mandará para casa mais uns funcionários públicos inúteis. Obrigar
homens e mulheres, idosos, a deslocarem-se a um centro de saúde fora da sua
área de residência pode ser positivo, pois terão cuidados de saúde que na sua
terra não teriam. Obrigar as raianas a terem os seus filhos em maternidades espanholas
é porreiro, pois assim ficarão de uma vez por todas com a cidadania espanhola,
que já vão adoptando quando preferem abastecer-se de combustível do outro lado
da fronteira. Extinguir freguesias rurais está bem visto; para que quer aquela
gente perto de si uma autarquia, se a podem ter a trinta-quarenta quilómetros
de distância...? Fechar repartições de finanças e tribunais é boa ideia, pois
são despesa excessiva para tão poucos eleitores. Quem conhece bem o interior
português e outras terras onde tais dislates têm sido cometidos sabe que essas
medidas legislativas, concretizadas pelos governos de José Sócrates e Passos
Coelho, embora pensadas por um poder ilegítimo nacional e estrangeiro, são uma
machadada fatal na dignidade de quem lá vive e, logo, um veneno mortal que
aniquilará a vida de muitas aldeias e vilas portuguesas. Pouco interessa que as
pessoas desses concelhos tenham uma carga fiscal idêntica à de um lisboeta, mas
sem os mesmos serviços à sua disposição. São cidadãos de segunda ou de
terceira, pensam; têm de pagar e calar – ou de emigrar, nem que seja para a
cova do cemitério.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;">São
esses os cálculos de quem vê as aldeias e vilas portuguesas apenas como fontes
de rendimento. Têm pena quando uma povoação é muito habitada; os
empreendimentos turísticos saem mais caros; casitas e terrenos que poderiam
custar uns tostões têm um preço justo, o que é francamente um obstáculo ao
progresso (de algumas contas na Suíça). Nada lhes importa que as terreolas tenham
junta de freguesia, médico, posto de correios, farmácia ou escola, que os
centros de saúde possuam atendimento permanente, que haja maternidade, finanças
ou tribunal próximos. Aos olhos de quem manda nos governos e ninguém elege, as
nossas aldeias são pavilhões de caça ou campos de férias, lugares de passagem
que transformam em não-lugares, sem vida, sem nada além de um cenário lavadinho
para turista ver. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;">Os reis dos primeiros
tempos da nossa História legislavam no sentido de favorecerem a fixação das
populações. Os governantes de hoje fazem o contrário. Primeiro adubaram os
caciques locais (que, diligentemente, pela sua passividade, pela sua
mediocridade e pelo seu fechamento, fizeram diminuir a população residente),
esquecendo os habitantes das nossas vilas e aldeias, não pondo em prática
estratégias que contrariassem o êxodo iniciado nos anos ’60 do século passado.
Agora, retiram a boa parte dos portugueses condições mínimas de dignidade –
para que o esvaziamento se complete. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Não tenhamos dúvidas:
muitos citadinos vêem no mundo afastado dos centros de poder uma terra de
cafres. Para que os seus negócios dêem o lucro esperado, terão de transformá-lo
numa terra devastada, onde habitem apenas servos sem gleba.</span>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-68540706093369407662014-06-09T02:30:00.001-07:002014-06-09T02:30:32.954-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoFdEb5JwUsn-SWc4d_47G5n4sIcMOGDf6chjsv9vNz3_OS9zoRMkf2PO7wRFwBqj9-t_8fLtKcdt9wGjLCS8mY5DbFld7NgEvLr7cNUonTf5pENh10oqhOE2XcC1MGZ2aDeSvn3UlsJk/s1600/freira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoFdEb5JwUsn-SWc4d_47G5n4sIcMOGDf6chjsv9vNz3_OS9zoRMkf2PO7wRFwBqj9-t_8fLtKcdt9wGjLCS8mY5DbFld7NgEvLr7cNUonTf5pENh10oqhOE2XcC1MGZ2aDeSvn3UlsJk/s1600/freira.jpg" height="388" width="640" /></a></div>
<div align="center" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;"><br /></span></b></div>
<div align="center" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;"><br /></span></b></div>
<div align="center" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;">INOCULAR O ANTÍDOTO</span></b></div>
<div align="center" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: center;">
<b>por Ruy Ventura</b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> O entretenimento noticioso dos primeiros dias de Junho de 2014 foi marcado, como o leitor bem sabe, pela vitória de uma freira italiana num daqueles concursos de faz-de-conta que iludem por esse ocidente fora centenas ou milhares de aspirantes à fama na música ligeira. Na sua página do <i>Facebook</i>, houve um católico que resolveu qualificar o acontecimento como uma manifestação das técnicas da “nova evangelização”. Não acredito que esse cristão tenha a convicção de que bastam sorrisos, pancadinhas nas costas, cantorias e atitudes levianas para conquistar fiéis. Terá usado a ironia – e fez bem – embora o assunto mereça sobretudo sarcasmo ou a mais veemente reprovação.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Não gostaria de estar na pele dos pastores de algumas comunidades católicas. Como é bem sabido, entre os militantes sinceros dessa tradição cristã (onde me incluo, como se sabe) há um discreto, mas activo, grupo de pessoas que aí se alojaram para colocarem em prática um aparente paradoxo. Por um lado, promovem nas suas paróquias um novo mau gosto religioso, pressionando os sacerdotes a ornamentarem o espaço cultual e a animarem as celebrações com o que há de pior na qualidade estética. Ou seja, “obrigam” à realização de restauros que destroem ou removem obras de arte valiosas e/ou expressivas, à instalação de cartazes horrendos, à compra de objectos de fancaria e, em consonância, à introdução nas missas e noutros ritos de práticas musicais que são uma das faces da sociedade de consumo, no que ela tem de espectáculo bizarro, grotesco, degradante porque acéfalo e alienante. Trata-se de um caminho fácil, que leva os crentes incautos à penúria cultual e cultural e a destruírem o que lhes resta de pensamento autónomo e poliédrico, aquele que propicia o acolhimento de uma dimensão sobrenatural da realidade e conduz à dignificação social e ao impulso criador e colaborante com Deus. Pelo outro lado, difundem sub-repticiamente, empáticos e simpáticos, um fechamento eclesial muito preocupante, retrocesso rejeitado pela Igreja Católica, sobretudo desde o pontificado de são João XXIII. Colaboram, assim, consciente ou inconscientemente, com o “inimigo”, pois mais não fazem do que aplaudir, promover e incentivar as piores práticas do capitalismo selvagem, tão frontalmente denunciado pelo papa Francisco, aquele que manipula as mentes a toda a hora para melhor as dominar, aquele que distingue as pessoas em função do seu poder económico e social, desprezando as periferias, rendendo-se ao dinheiro e às suas seduções divisoras, ou seja, diabólicas. Não se trata de promover a cultura tradicional dos povos, tão rica de espiritualidade e inconformismo, mas de rebaixar o culto introduzindo nele elementos (falsamente chamados “populares”) que só distraem, perturbam e afastam da <i>Cidade de Deus</i>.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Como contraponto a essa euforia em torno de alguém que resolveu passar, ainda que momentaneamente, “do convento para o cabaré”, não para converter mas para se tornar visível (Deus lhe perdoe, talvez não soubesse o que fazia…), euforia promovida pela comunicação social ao serviço do poder económico-financeiro (por quem haveria de ser?), recordei momentos inolvidáveis. Lembrei quanto me emocionou em Grândola o <i>Mistério do Cristo dos Gascões</i>, drama sacro medieval vindo de Segóvia na Semana Santa deste ano e chegado às terras do litoral alentejano pela mão do justamente reconhecido <i>Festival Terras Sem Sombra</i>. Fui ainda reler a entrevista recentemente dada por Rui Vieira Nery ao nº. 8 da <i>Invenire</i>.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Para todos os crentes, a mais alta música litúrgica e sacra (para não dizer, toda a elevada criação artística), produzida ao longo de mais de mil anos de história, teve na sua génese uma assistência do Espírito Santo. Interessam pouco as filiações religiosas dos compositores. O que mais vale é essa música, não erudita mas ascensional (na medida em que nos leva ao Alto), que nos faz subir àquele Infinito a que os crentes chamam Deus. Nessa comunicação com o Inefável, ou seja, nesse contacto com a Altitude Suprema, nós próprios transcendemos as condicionantes que transformam todos os dias a nossa vida em mera existência.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Só uma deficiente formação religiosa ou enquistamentos que levaram a um empobrecimento espiritual e cultural poderão levar tantos católicos (clérigos e leigos) a desejar ouvir nas suas igrejas algo que até pode ser espectacular (ou seja, alienante), mas nunca estimulará a espiritualidade no que ela tem de amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Substituir a verdadeira música sacra, antiga ou contemporânea, tradicional ou não, por entretenimento nos arredores da sacristia é prestar um péssimo serviço aos fiéis, à Igreja, à sociedade e a Deus, compactuando com o que há de mais boçal e rasteiro no nosso tempo.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Por isso considero de tanta valia o trabalho desenvolvido por algumas instituições, como a comunidade ecuménica de Taizé, a diocese de Beja – que neste ano organiza pela décima vez o<i>Festival Terras Sem Sombra</i> – ou o Seminário de São Paulo de Almada. Num tempo em que a todo o momento e por todos os meios se injecta nas nossas mentes o veneno do relativismo e do rebaixamento moral, ético, social e cultural, as suas iniciativas vão inoculando num número crescente de pessoas o antídoto que talvez as possa salvar. Não é o mesmo ouvir em contexto religioso Plummer, frei Manuel Cardoso, Bartok, Bach, Feldman, Mozart, Messiaen ou um coral alentejano e aguentar no mesmo espaço uma cantoria mal amanhada, vinda da terra dos “fenómenos” ou dos seus arredores, mesmo que sejam no Brasil...</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Como afirma Rui Vieira Nery na entrevista supracitada, não “<i>se pode, na liturgia, competir com a indústria de entretenimento, utilizando os mesmos instrumentos e a mesma estética</i>”, porque aí – até quando? pergunto eu – “<i>Nunca teremos fumos, bailarinas, cenários, foguetes e luzes</i>”. Apimbalhar as celebrações, tirando delas o mistério que é a sua essência e as justifica, nunca será aproximar os fiéis da Igreja. É participar no envenenamento dos crentes ou assistentes, que já muito andam envenenados – e por isso reivindicam a toda a hora o que nunca lhes deverá ou deveria ser dado. Volto ao testemunho crente do musicólogo: “<i>Uma coisa é investir na comunicação e na partilha daquilo que se faz na Igreja, outra é a ideia de seguir o gosto dominante das indústrias culturais massificadas</i>”.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Para que não se diga que defendo o “elitismo” – a chapada do costume, quando surge alguém a defender a elevação cultural, dentro e fora da Igreja, como o melhor método de resistência contra a alienação, tão estupidificante, do nosso tempo –, além do referido festival, que vivamente aconselho, recordo dois CDs. São exemplos do que se pode fazer e difundir, sem nunca ceder à promoção da penúria mental. Um deles intitula-se <i>Cânticos da Tarde e da Manhã</i>, cantado por Teresa Salgueiro e editado pelo Seminário de Almada, na diocese de Setúbal, a partir de uma iniciativa do padre Rodrigo Mendes. Ouvi-lo não deixa ninguém indiferente… O outro, já clássico, é a colectânea <i>Cânticos Alentejanos</i>, do coro do Carmo de Beja, com direcção artística do padre Cartageno. Aí a tradição mais autêntica casa-se com a espiritualidade aberta e consciente dos alentejanos, daqueles que vêem no firmamento e nas vistas largas da sua planície uma expressão da vastidão da divindade.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"> Inocular o antídoto é fazer como em Beja, Almada e noutros lugares que marcam a diferença: acolher e divulgar o tesouro de um património musical imenso, aceitar e incentivar o que há de melhor no “erudito” e no “popular/tradicional”, abrir as portas à criação contemporânea, desde que ela corresponda a padrões de qualidade inegociáveis e leve à conservação e a um mais atento usufruto do depósito da fé. Quem diz na música, diz noutras dimensões da vida eclesial, porque não há culto sem cultura e, já agora, cultura sem culto “<i>em espírito e verdade</i>”.</span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-20894319996738274252014-04-24T03:44:00.002-07:002014-04-24T03:44:56.430-07:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
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<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b>A ESCADA DA DEMOCRACIA</b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><b>por Ruy Ventura</b></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span> </span><span>Sou
de uma aldeia situada a sete quilómetros de Castelo de Vide, vila onde nasceu e
está sepultado o capitão Fernando Salgueiro Maia. Exerço o ministério docente numa
escola do concelho de Setúbal onde, pela última vez, deu aulas o poeta e cantor
José Afonso. Esta proximidade física poderia ter nulo significado no meu olhar
sobre o nosso país e a sua forma de governo. Acontece, contudo, que tenho entre
os meus familiares próximos alguém que participou activamente nas operações
militares que levaram à queda da ditadura de Thomaz e Caetano. Sucede que sou descendente
de um ex-militante de um dos partidos que fundou a democracia portuguesa, homem
que prontamente abandonou a sua filiação quando se deu conta de que essa
organização política, cujos estatutos visam a construção do bem comum, era
sobretudo um instrumento de promoção pessoal, de tráfico de influências e,
talvez, de corrupção. Estes exemplos poderiam não ter exercido qualquer
influência sobre o meu pensamento. Dá-se todavia o caso de eu ser, desde a
adolescência, um leitor assíduo daquele texto basilar onde se afirma que o
salário dos trabalhadores clama quando não é pago com justiça, sobretudo quando
aqueles que o deveriam entregar vivem “<i>na
terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os [seus] apetites</i>”.
A estas palavras daquele Sant’ Iago, cognominado “<i>o justo</i>”, habituei-me ao longo dos anos a juntar a mensagem de
Jesus Cristo, sobretudo quando nos aconselha a sermos simples como as pombas e
astutos como as serpentes. Ressoam ainda hoje as suas bem-aventuranças: “<i>Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados… Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus</i>”. Ressoam ainda as suas imprecações: “<i>[…] ai de vós, ricos, porque recebestes a
vossa consolação! Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter
fome!</i>”. </span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span><span> </span>Não
me comoveria hoje tanto, quando recordo e evoco os heróis cívicos que Portugal
e os lusitanos talvez ainda não tenham merecido (Maia, Zeca e tantos outros…),
se não tivesse nos meus alicerces esta tradição multissecular. Talvez não me
angustiasse do mesmo modo, quando vejo a existência dos portugueses retroceder
até padrões civilizacionais indignos, se a mensagem do cristianismo (e também
de muito do judaísmo) não ecoasse tanto em mim e, desse modo, não soubesse que
o mundo está a ser governado pelos servos de Mamon, cujo objectivo, lentamente
conseguido, é transformar as imperfeitas democracias (não há democracias
perfeitas, porque são humanas) em descaradas, embora hipócritas, plutocracias,
reduzindo-nos à servidão. É que não se pode adorar ao mesmo tempo a Deus e ao
dinheiro… <span> </span></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span><span> </span>Todos
temos o dever de pôr em prática um exame de consciência. Que queremos de nós,
da sociedade, do mundo? Que fazemos/faremos para alcançar essa meta? Quanto
temos praticado em sentido contrário? Tinha quatro meses quando ocorreu a
revolução de 25 de Abril de 1974. E embora, um ano ou dois mais tarde, gritasse
que o povo estava com o MFA, só a leitura e a meditação de toda a tradição
humanista e judaico-cristã me levou a ter consciência de quanto são
inseparáveis a democracia e uma verdadeira dignidade humana, de quanto são
faces da mesma moeda a liberdade e a responsabilidade, de que “<i>tudo nos é permitido, mas nem tudo nos
convém</i>”, como escreveu São Paulo. Desejo, assim, a democracia – e não a
demagogia ou a libertinagem – porque sei que não podemos ser livres sem beleza,
bondade e verdade, que não pode haver igualdade sem uma justa redistribuição e
um correcto usufruto dos bens materiais e imateriais, que não existe
fraternidade sem referência a uma paternidade e maternidade comuns, como bem
viu recentemente o papa Francisco. Estes são valores judaico-cristãos, que
Saint-Martin e a revolução francesa apenas revisitaram e actualizaram. Penso
que só os concretizaremos quando realmente se praticar a proposta de Leão XIII
na sua encíclica “<i>Rerum Novarum</i>”: “<i>[…] não é justo que o indivíduo ou a família
sejam absorvidos pelo Estado, mas é justo, pelo contrário, que aquele e esta
tenham a faculdade de proceder com liberdade, contanto que não atentem contra o
bem geral e não prejudiquem ninguém</i>”. Embora confiantes e esperançados na
força do ser humano quando se liberta de quanto o prende e estupidifica, temos
de estar muito preocupados, pois vivemos um tempo em que nem os governados são
para o governo nem o governo para os governados; todos são instrumentos nas
mãos do poder ilegítimo financeiro, sem rosto, que mata sem hesitar, que reduz
milhões à miséria social, moral e espiritual. Assim se justifica a promoção da penúria
material, a estimulação do consumismo acéfalo e desenfreado, a alienação dos
cidadãos pela valoração de um relativismo ético e de uma ignorância sobranceira
que incitam a preguiça boçal, a agressão descarada e a barbárie mais
assustadora.</span></span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; font-size: small;">
<span style="line-height: 115%;"><span> </span>Tudo isto se passa em
Portugal e também noutros países. Mas neste rectângulo em que nos foi dado
viver temos ainda um sistema político-social que se desfaz, porque nele abundam
seres que não promovem o bem comum porque não podem, não querem ou não sabem
fazê-lo. Há sinais de esperança, é certo. Há sempre sinais de esperança…
Felizmente há portugueses, crentes e não-crentes, que discretamente dão
resposta à exortação publicada em 1963 por santo Ângelo José Roncalli. O bom
papa João XXIII, na encíclica “<i>Pacem in
Terris</i>”, incitou “<i>todas as pessoas de
boa vontade</i>”, principalmente os católicos, a “<i>participarem activamente na vida pública</i>” e “<i>contribuírem para a obtenção do bem comum de todo o género humano e da
própria comunidade política; e [a] se esforçarem […] para que as instituições
de finalidade económica, social, cultural e política sejam tais que não criem
obstáculos, mas antes facilitem às pessoas o próprio melhoramento, tanto na
vida natural como na sobrenatural</i>”. <span> </span>Que
melhor desejo posso ter para as próximas décadas de democracia em Portugal? As
palavras desde grande santo espicaçam-nos. Espicaça-nos também outro grande cristão,
o enorme escritor Raul Brandão (e com ele termino): “<i>Espero pelo dia […] em que acabe a exploração do homem pelo homem.
Espero pelo dia em que a instrução seja realmente gratuita e obrigatória para
todos – e o ensino religioso. […] Espero o dia em que o homem compreenda que o
supérfluo é um crime. Mais justiça e mais pão para todos. Mais Deus para todos.</i>”
Deverá ser esta a nossa meta, em todos os dias do nosso futuro. Só assim valerá
a pena sermos cidadãos nesta sociedade, nesta pátria, neste mundo.</span></span>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-82729675946573611932013-06-07T01:49:00.000-07:002013-06-07T01:49:06.085-07:00<div>
<span> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVLxc654PIzoTKqag_kH9BQsjSiukRn2FJo8lxR5BrBKtEteB5ZR2-4vUPTOjm-UxwoJlhkq2cUy12iaL033a2nDLWjDfiLfdMLsggna5ZHvLOuLAx8P5HeZEjBscOoW1Zv4ASWP4roIw/s1600/anjo+e+cruz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVLxc654PIzoTKqag_kH9BQsjSiukRn2FJo8lxR5BrBKtEteB5ZR2-4vUPTOjm-UxwoJlhkq2cUy12iaL033a2nDLWjDfiLfdMLsggna5ZHvLOuLAx8P5HeZEjBscOoW1Zv4ASWP4roIw/s400/anjo+e+cruz.jpg" width="357" /></a></div>
</span></div>
<div>
<span> </span></div>
<div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>A ELEIÇÃO, A DIVISÃO E O CAMINHO</span></b></span></div>
<span></span></div>
<span> <br /> A eleição e as
intervenções
do papa Francisco têm trazido ao de cima, em certos espaços de
discussão religiosa, o quanto neste momento os católicos estão
divididos. A alegria geral pela sua elevação à cátedra de bispo de Roma e
pelas suas palavras (cada frase/gesto seu é uma proposta de metanóia)
não se espelha no interior de toda a Igreja, por mais que alguns tentem
disfarçar. Não falo de uma acepção restrita da palavra "Igreja", que
normalmente só se refere aos clérigos; falo dos crentes, dos chamados
"leigos".<br />
Temos, dum lado, um grupo serôdio de "ultramontanos" entrincheirados, que,
muita<span>s vezes, lembra aquele que deu
origem, por interesse ou fanatismo, à Inquisição e às suas piores atrocidades. Do </span></span><span><span>outro,
é visível um arquipélago complexo de activistas das mais diversas
causas
ou de "relativistas" que tenta moldar a doutrina aos seus interesses
particulares, sem olhar à mensagem de Cristo ou chegando mesmo a
deturpá-la conscientemente. Há ainda uma maioria, assim creio, q</span></span><span><span>ue
tenta viver o melhor que pode a benevolência contida na
mensagem evangélica, apesar das suas insuficiências, normais em seres
humanos imperfeitos. Basta viajar pelos diversos blogues, por várias
páginas na "internet" e por grupos de discussão no "facebook" para
constatar isto mesmo. <br />
Na minha opinião de cristão católico (ou seja, de cristão que procura a
universalidade), o caminho mais digno será sempre
este: diálogo incessante tendo em vista a união na diferença das várias
igrejas cristãs; diálogo
com as outras religiões e tradições (incluindo, por mais que não se
queira, a maçonaria teísta), no respeito por aquilo em que cada um
acredita, tendo em vista a construção de propostas comuns para o bem da
humanidade; diálogo também com os ateus (que não comerão os católicos,
de
certeza...) e terão muitas palavras a dizer e imensas propostas a
formular. Tal caminho não necessita de levar ao apagamento da matriz da
fé e da palavra
de cada um. Mas também nunca poderá impedir a correcção aberta ou a
denúncia de teorias ou práticas que não respeitem a bondade, a beleza e a
justiça. Será sempre esse o caminho para a paz.<br />A leitura do belo
diálogo entre o papa Francisco e um rabino argentino apresenta uma das
formas possíveis desta demanda. Está lá tudo ou quase tudo.<br />
Infelizmente há, contudo, católicos (que, decerto, não serão cristãos
nem crentes) que são como certo "santo" com língua de prata, que nunca
teve problemas de consciência quando insultava o beato João XXIII,
chamando-lhe "velho a cheirar a vacas". Cheira-me que, murmurando, brindarão Jorge Mario Bergoglio com mimos deste cariz...</span></span></div>
<span><span>Será
sempre bom repetir: temos de sair da indiferença, rejeitar o fechamento
e a hostilidade, deixar para trás a tolerância e construir uma relação
entre religiões, entre seres humanos, baseada na benevolência.<div class="yj6qo ajU">
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</span></span>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-583810568827346222013-05-29T01:39:00.000-07:002013-05-29T01:39:05.744-07:00<div style="text-align: center;">
<strong><span style="font-size: x-large;">Beleza em tempos de guerra</span></strong></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<strong></strong><br />
“<i>[…] alguém duvidará, ainda, de que estamos em guerra?</i>” – A pergunta obriga-nos a suspender o passo e a enfrentar a barbárie. Vêm-nos à memória imagens que gostaríamos de esquecer: crianças que não se concentram na escola porque têm fome; velhos que vão definhando porque não têm dinheiro para aviar os medicamentos (enquanto outros gastam centenas de euros numa noite só); homens e mulheres catando no lixo dos supermercados alimentos fora de prazo para matar a fome (e ao lado o luxo, indiferente, exibindo-se); a frieza dos governantes pugnando pela redução do orçamento público da educação e da saúde (nunca dizendo que os filhos estudam em colégios privados e consultam médicos nos melhores hospitais particulares); e muitas, muitas outras…<br />
De repente, ao lado do aviso de guerra, ouço as palavras de María Zambrano, lidas há pouco no seu livro <i>A Agonia da Europa</i>: “<i>Ser cristão é também não se resignar, agarrar-se à esperança no impossível</i>”. As duas juntas, constatação e exaltação, enrijam e preparam para a luta: – uma luta de paz, mas de firmeza, contra o logro, contra um mundo centrado nesse demónio chamado dinheiro, contra aqueles que dissolvem deliberadamente a dignidade humana por actos ou omissões.<br />
A frase com que iniciei este texto é de José António Falcão. Faz parte do texto de abertura do programa do festival “<i>Terras sem Sombra</i>”. Creio que, ao escrevê-lo, também deve lhe ter passado pela mente, consciente ou inconscientemente, a definição da filósofa espanhola. Todo este evento, que se realiza pela nona vez, se estrutura sob o signo da Beleza, não dispensando contudo na sua proposta sólida uma Verdade ecuménica que não se impõe e uma Bondade que nos interpela:<br />
“<i>A Verdade e o Bem têm sido apontados insistentemente, no último século, como via privilegiada para Deus. Porém, a Beleza não o é menos. Hoje vemo-nos órfãos dela e desejamo-la ardentemente. Alguém duvidará de que saber descobri-la e partilhá-la representa uma prova suprema de amor?</i>” (p. 10)<br />
Descobrir – “<i>inventar</i>” no melhor sentido etimológico – e partilhar a Beleza será a tarefa suprema dos seres humanos, porque ao mesmo tempo, discretamente, estará oferecendo também a Verdade e o Bem, escadas para o Divino, que se concretiza na mais sólida e inviolável dignidade do Homem e da Natureza. Passar da “<i>tolerância</i>”, quase sempre indiferente e relativista, à “<i>benevolência</i>”, ao desejo activo do bem comum – como dizia e bem o papa emérito Bento XVI. E sabemos hoje o quanto nós, seres humanos, dependemos de uma natureza amada e preservada, o quanto a nossa existência depende dessa devoção:<br />
“<i>[…] Arte, cultura, espiritualidade e conservação da natureza são as armas de uma resiliência necessária em tempos de escolhas. Ser </i>faber<i> ou </i>sapiens<i>, eis o que está em jogo.</i>” (p. 28)<br />
Por isso precisamos tanto de “<i>ração de combate</i>” nestes tempos de guerra fria, surda e suja, porque a “<i>ração</i>” – as palavras não mentem e ainda menos as suas raízes – será sempre uma “<i>razão</i>” de combate, desse “<i>bom combate</i>”, como dizia São Paulo, pela imanência e pela transcendência.<br />
Um conjunto de concertos ajudará pouco nestes tempos, dirão. Asseguro-vos contudo que ouvir, no vazio (espaço aberto dentro de nós), Machaut, Escobar, Mozart, Pergolesi, Haydn, Ligeti ou Schönberg, enquanto se contemplam belas esculturas e pinturas que tornam visível um Espírito que nos consola, será encontrar a nascente da esperança, essa que nenhum de nós, crente ou descrente, poderá perder, como já referiu o papa Francisco, que decerto não esqueceu o Amor (Charitas) como centro de tudo.<br />
Volto às palavras de José António Falcão, à sua habitual sabedoria (espero que um dia decida recolher em livro essas suas reflexões):<br />
“<i>[…] Eis o momento em que tudo depende da capacidade de julgar, com lucidez e serenidade. Nestas circunstâncias – alguém duvidará, ainda, de que estamos em guerra? –, um módico pecúlio de coisas fundamentais pode fazer a diferença. O soldado sabe que a ração de combate lhe permite sobreviver, ganhar forças para fazer frente aos obstáculos do inimigo e prosseguir até à fonte que saciará a sua sede e ao vergel que fartará a sua fome. […]</i>” (p. 15)<br />
Neste tempo de guerra não podemos faltar à Beleza, pois sem ela nunca a Verdade e o Bem constituirão por si só o triângulo sagrado. Com firmeza e lembrança, temos de recordar sem rancor quem foram os judas desta peleja, mas também os nossos “<i>excessos de confiança</i>” e a nossa “<i>complacência face aos corruptos (e aos seus corruptores)</i>” (p. 22). Com alegria e esperança, “<i>sem queixumes</i>”, temos de arregaçar as mangas porque são necessários “<i>sinais de confiança</i>”. Este marco da cultura no Alentejo “<i>assume-se como um deles</i>”. (Talvez um dia se alargue além da diocese de Beja, assim queiram os alentejanos dos distritos de Évora e de Portalegre…) Temos de dar outro uso à frase tristemente célebre de um governante: <span style="text-decoration: underline;">custe o que custar</span>, não podemos acabar, por falta de água, à beira da nascente. Não fomos castigados como Tântalo, apesar das nossas faltas. Saibamos pois descobrir a beleza que as “<i>Terras Sem Sombra</i>” nos oferecem neste tempo de guerra para que, depois, reconciliados connosco e com o mundo, possamos descobri-la dentro de nós e à nossa volta.<br />
<br />
<em><span style="line-height: 1.5;">Ruy Ventura</span></em>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-66960618400070450342013-05-02T05:57:00.000-07:002013-05-02T05:57:11.612-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></span>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></span>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;">TROIKA</span></span><br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
Leio um escrito russo do século XIX. Em nota de rodapé, o bom tradutor informa que "troika" é "um trenó puxado por três cavalgaduras". Esboço um sorriso, meio amargo. Penso que o veículo é Portugal, a deslizar por um terreno muito escorregadio, gelado, numa guerra fria, surda. E as "três cavalgaduras"? Não acredito que sejam boas bestas. São bestas de carga, submissas perante os seus donos (os donos do dinheiro que "nunca hesitarão pôr um povo a passar fome se isso for necessário para ganhar mais uns biliões" (ex-funcionário do maior banco americano dixit!)), sobranceiras face àqueles que, enregelados, têm o azar de viver o pesadelo de não conseguir sair do trenó, de não conseguir salvar o trenó, de se verem puxados pelas "cavalgaduras" até ao abismo, até ao "inferno", o mundo inferior, dos mortos. Sobranceiras e capazes de coices mortais.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
Lembra-me mestre Gil Vicente: "mais vale burro que nos carregue do que cavalo que nos derrube". Sim... Mas os mansos asnos estão em vias de extinção, dizem.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
Restam as bestas, três, como as três cabeças de Cérbero, o cão feroz que guarda o Hades, que vê com os olhos fechados e dorme com os olhos abertos. Recordo Dante, a placa sobre a porta do Inferno: "Vós que aqui entrais, deixai toda a esperança..."</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
O mais alto Mestre avisa-me contudo: "Sêde simples como as pombas, astutos como as serpentes... Olhai os lírios do campo..."</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
Páro para pensar. Que culpa tem a palavra?, que culpa tem o veículo?, que culpa têm as boas cavalgaduras se os escreventes com língua-de-pau resolveram compará-los às sinistras figuras que nos governam dentro e fora de fronteiras?</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
Ruy Ventura </div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
(in "Etymologias")</div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-71472769548150158142013-02-25T01:39:00.000-08:002013-02-25T01:39:04.126-08:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="color: #660000; line-height: normal; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>PALAVRAS QUE PERTURBAM</span></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: center;">
<span style="font-size: 14.0pt;">por Ruy Ventura</span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">“[…]
quando o Filho do Homem voltar, </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">encontrará
a fé sobre a terra?”</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Jesus de Nazaré (Lucas, 18: 8)</b></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No Natal
de 1969 um jovem professor de Teologia, com pouco mais de quarenta anos,
proferiu na Emissora Radiofónica de Hessis uma conferência que, hoje, podemos
considerar profética. A prelecção intitulava-se “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que aspecto será o da Igreja no ano 2000?</i>” e, a dado passo,
afirmava:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Da crise de hoje […] nascerá amanhã uma
Igreja que terá perdido muito. Tornar-se-á mais pequena, terá em larga medida
de recomeçar tudo de novo. Essa Igreja não vai poder encher muitos dos
edifícios que construiu quando a conjuntura era favorável. Com a perda do
número de seguidores, perderá também muitos dos seus privilégios na sociedade.
Terá de se apresentar de modo muito mais forte do que até aqui, como uma
comunidade de voluntariado, a que só se pode aceder por decisão. Enquanto
pequena sociedade, vai exigir de modo muito mais marcante a iniciativa dos seus
membros. […] Será uma Igreja interiorizada […]. Não terá uma vida fácil. Porque
este processo de cristalização e clarificação custar-lhe-á alguns bons
colaboradores. Torná-la-á pobre e fará dela uma Igreja dos pequeninos. O
processo será tanto mais difícil por a Igreja ter de eliminar tanto a tacanhez
sectária como a bravata daqueles que só querem fazer a sua vontade. […]
preparam[-se] tempos muito difíceis para a Igreja. § A autêntica crise mal
começou. Deve-se contar com grandes abalos […]”</i></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></i><span style="font-size: 14.0pt;">A
autêntica crise mal começara… É possível que o autor destes trechos, retirados
de um livro intitulado “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fé e Futuro</i>”,
tenha pensado na sua afirmação quando, em Abril de 2005, lhe coube dirigir em
Roma a Via Sacra de Sexta-Feira Santa. Meditando a partir da terceira queda de
Jesus Cristo a caminho do Calvário, proferiu palavras duras, cortantes:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tantas vezes celebramos apenas nós próprios,
sem nos darmos conta sequer d’ Ele! Quantas vezes se contorce e abusa da sua
Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias!
Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio,
deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba e auto-suficiência. […]
Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar,
uma barca que mete água por todos os lados. […] O vestido e o rosto tão sujos
da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós
mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os
nossos grandes gestos. […]</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O homem
que tal disse era Joseph Ratzinger. Dias depois sucederia a João Paulo II como
papa e escolheria, significativamente, o nome de Bento. O pastor que pensou e
difundiu o diagnóstico que nos perturba só poderia confirmá-lo e aprofundá-lo
em 2013, dias depois de anunciar “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">urbi et
orbi</i>” a sua renúncia ao sólio pontifício por razões que, totalmente, só ele
e Deus conhecerão. Na homilia de Quarta-Feira de Cinzas sublinharia quão
importante é “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o testemunho de fé e de
vida cristã de cada um de nós e das nossas comunidades para manifestar o rosto
da Igreja; rosto este que, às vezes, fica deturpado.” </i>E explicou: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Penso de modo particular nas culpas contra a
unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial. Viver a Quaresma numa
comunhão eclesial mais intensa e palpável, superando individualismos e
rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão longe da fé
ou são indiferentes.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todas
estas palavras, dirão, têm apenas interesse para os católicos que, agora,
esperam a eleição do seu novo líder religioso, depois da decisão inesperada e
raríssima de um alemão que decidiu abdicar do lugar em que fora investido,
dizem, pelo Espírito Santo. Assim não creio. Se o nosso objectivo é trabalharmos
para que se diluam – como propôs Bento XVI – as relações de tolerância mútua em
benefício da construção de uma comunidade de seres benevolentes, ou seja, se
queremos transformar uma sociedade de indiferença entre os seres num mundo
centrado no bem de cada ser humano, estas palavras não podem deixar-nos
indiferentes – se olharmos para quanto nos rodeia de uma perspectiva sagrada e
sacralizadora, seja qual for a nossa postura perante Deus.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Perturbado
pelas palavras que transcrevi e por quanto têm de verdadeiro neste mundo em que
tudo vale e tem o mesmo valor, dei por mim a pensar num dos célebres frescos de
Giotto di Bondone, existentes na Basílica de São Francisco, em Assis. Do lado
direito, temos um papa (Inocêncio III, 1198-1216) que sonha. Do outro, a
representação do sonho: São Francisco impede a derrocada de uma catedral, ou
seja, da Igreja por inteiro. Eram tempos conturbados aqueles… como os nossos. A
santidade de Francisco impediu a queda. E agora?</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tentando
aliviar a perturbação, peguei num livrinho do filósofo russo Nicolai Berdiaeff,
cristão ortodoxo defensor da unidade das Igrejas, perseguido pelos comunistas,
leitor e admirador das obras do nosso Teixeira de Pascoaes. Nesse opúsculo
intitulado “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Da Dignidade do Cristianismo
e da Indignidade dos Cristãos</i>” reproduz uma história que me dá que pensar
sempre que a leio. Saiu da mão de Boccacio, escritor medieval italiano. </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um
cristão tentava há muito converter um amigo judeu. O baptismo do israelita
estava à porta. Quis contudo, antes de dar o passo definitivo, ir a Roma
apreciar a conduta da Cúria e do pontífice. O católico, que tanto trabalhara,
viu as suas expectativas irem por água abaixo. <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O judeu partiu e constatou a hipocrisia, a
depravação, a corrupção, a cupidez que reinavam nessa época na corte do Papa
entre o clero romano. Voltou – e o seu amigo cristão logo lhe perguntou com
inquietação que impressão trazia de Roma. A resposta, com um sentido muito
profundo, foi das mais inesperadas: se a fé cristã nunca foi abalada por todos
os escândalos e abominações que havia visto em Roma e se, apesar de tudo, ainda
se fortificava, ela deveria ser a verdadeira fé. O israelita tornou-se assim
cristão.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É
preciso separar, nestes tempos de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fulanização</i>”,
a exigente doutrina nascida nas e das palavras de Jesus Cristo do modo impuro, fanático,
interesseiro e/ou depravado com que muitos cristãos a vivem, distinguir o
Cristianismo (nas suas diferentes vias) da hipocrisia anticristã daqueles que
apontam o argueiro mas escondem a tranca que têm sobre a cabeça. Sabendo que os
cristãos vivem em direcção a uma meta de perfeição, sem serem seres perfeitos,
é preciso denunciar aqueles que, diabolicamente talvez, querem uma Igreja
tacanha de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">puros</i>” e fecham portas
quem nem eles próprios sabem abrir. Mas, ao mesmo tempo, devemos impedir o
crescimento de um Cristianismo de trazer por casa, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">à la carte</i>, sem criação, sem altitude, sem mistério, sem
espiritualidade, sem sacralidade e sem compaixão. </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Berdiaeff
sublinha: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não é culpa de Cristo se a sua
verdade não se cumpre nem se realiza na vida. Cristo não é responsável se os
Seus mandamentos são espezinhados.</i>” O próximo papa, com as suas
insuficiências e com humildade, deve contribuir, como Francisco de Assis, para
que o Cristianismo se mantenha de pé, como proposta de elevação e salvação do
ser humano. É a sua tarefa – e a tarefa de todos os cristãos e homens de boa
vontade. </span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-53593384077544394332013-01-07T02:28:00.000-08:002013-01-07T06:06:36.704-08:00<br />
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt;"><strong><span style="font-size: x-large;">MAL DE CANGA, PIOR DE ARADO<o:p></o:p></span></strong></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Estávamos
sentados à mesa de um restaurante, de um belo restaurante que escolhera para sala de
refeições um daqueles pátios floridos que só existem na Andaluzia. Falávamos
sobre a influência da cultura semita na Península Ibérica. Às tantas, Ahmad
resolveu perguntar-me palavras que, do árabe, haviam ficado na nossa língua.
Dei-lhe vários exemplos, entre eles “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">alcofa</i>”.
Riu-se. E, no seu inglês cultivado nas margens do Nilo, explicou-me: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É o nome que damos no Cairo aos seguidores
da Irmandade Muçulmana: têm orelhas grandes como asas, mas não ouvem nada, só as
arengas dos fanáticos que os chefiam. São muito perigosos. Sei do que falo.
Apesar de ser filho de uma figura importante nos meios religiosos egípcios, já
por duas vezes me ameaçaram de morte, por ter escrito algo de inconveniente no
jornal onde trabalho.</i>” E explicou mais: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mubarak era um monstro, um assassino. Mas quem lhe sucede foi feito num
molde muito pior.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Q</span><span style="font-size: 14pt;">uantas
asneiras não se têm feito por esse mundo fora devido à impaciência… Querendo
livrar-se, o mais rapidamente possível, de facínoras e de corruptos, quantos
povos não têm instalado no poder figuras sinistras ou fanáticas que mais não
fazem do que acentuar o sofrimento dos seres humanos que os rodeiam.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
feudalismo da monarquia russa não foi substituído por setenta e tal anos de
comunismo sem escrúpulos e sem ética? A ditadura de Baptista, em Cuba, não foi
apagada pela tirania “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">revolucionária</i>”
dos irmãos Castro? À imperfeita monarquia constitucional não sucedeu em
Portugal um regime republicano fanático, caótico e caceteiro? A balbúrdia
anti-democrática dessa Primeira República portuguesa não foi “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">salva</i>” por uma Ditadura Militar –
aplaudida por tantos compatriotas nossos – que abriu as portas a quatro décadas
de autocracia salazarista? O luminoso 25 de Abril de 1974 não ia trazendo uma “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">democracia popular</i>”… estalinista? Um
certo Pinto de Sousa, de má memória, não foi removido, sem que o soubéssemos,
por um trio de criados da agiotagem internacional que vê como seu principal
obstáculo a Constituição da nossa pátria?<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É
importante, nestes nossos tempos conturbados, que não sejamos como os “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">alcofas</i>” egípcios: com orelhas grandes
(quiçá, com línguas demasiado compridas), mas sem capacidade de audição e de
atenção. Quem esteja atento, já assistiu decerto nalguns lugares públicos,
físicos e virtuais, à ressurreição de frases de António de Oliveira Salazar e
de outros “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">santos</i>” com o mesmo
quilate, embora doutros quadrantes político-sociais, a prometerem o “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ressurgimento</i>” e outras acções
purificadoras e, decerto, cegas e fanáticas. Sejamos simples como as pombas e
astutos como as serpentes. Não nos deixemos enganar pelo canto das sereias, por
mais belas e atraentes que sejam, pois a sua face verdadeira é monstruosa. A
História já provou desse veneno várias vezes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sejamos
com a velha da história tradicional. Um dia encontrou-se com o seu rei, sem que
o conhecesse (estava disfarçado). Procurava o monarca ouvir a opinião
verdadeira do seu povo sobre o seu governo (ainda não existiam sondagens nem
assessores naquele tempo…). “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que diz a
senhora do rei?</i>”, perguntou-lhe. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Deus
o guarde por muito tempo!</i>”, retorquiu a idosa sem demora. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Como pode dizer isso?... Dizem que ele é
mau…</i>”, inquiriu o governante, desconfiado. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Olhe, eu já sou velha. Já conheci o avô deste. Era mau como tudo.
Pedimos a Deus que morresse e Ele fez-nos a vontade. Veio o pai dele. Pior
ainda, como o pecado… Rezámos outra vez e fomos atendidos. Veio o rei de agora.
Muito, muito pior que os dois anteriores. Portanto, Deus o conserve… Quanto
vier outro, não vamos ficar melhor.</i>” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
narrativa não conta que consequência teve esta resposta. Ensina-nos contudo que
a impaciência nem sempre é boa conselheira. A democracia representativa tem
decerto muitos defeitos. Alguns insanáveis. Mas, na sua imperfeição, é ainda a
forma de governo mais equilibrada que o homem até hoje pôde inventar. <o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: right;">
<span style="font-size: 14pt;"><strong>Ruy Ventura<o:p></o:p></strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-50345370179890821542012-11-27T07:22:00.001-08:002012-11-27T07:22:36.916-08:00<table border="0" style="width: 538px;">
<tbody>
<tr><td><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB3u2pTrjNgJqXJQQi6cLG8Wt2hqEXjghjX5CzrgeHcXBDgw2GBU6SyGD5d0fDmLtpmbchvG0nWW5HXffnnYwF9-bPdGYPmlSo-c-rW2DWO66u7Gj3rIgYMAj94Q-JhytjnxxzpKxLRKk/s1600/url.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="466" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB3u2pTrjNgJqXJQQi6cLG8Wt2hqEXjghjX5CzrgeHcXBDgw2GBU6SyGD5d0fDmLtpmbchvG0nWW5HXffnnYwF9-bPdGYPmlSo-c-rW2DWO66u7Gj3rIgYMAj94Q-JhytjnxxzpKxLRKk/s640/url.jpg" width="640" /></a></div>
<div align="center" class="auto-style1">
<span class="TITULOS"><strong><span style="font-size: x-large;"></span></strong></span> </div>
<div align="center" class="auto-style1">
<span class="TITULOS"><strong><span style="font-size: x-large;"></span></strong></span> </div>
<div align="center" class="auto-style1">
<span class="TITULOS"><strong><span style="font-size: x-large;">A maldade </span></strong></span></div>
<div align="center" class="auto-style1">
<span class="TITULOS"><strong><span style="font-size: x-large;">de uma reforma administrativa</span></strong></span></div>
<div align="center" class="auto-style1">
</div>
<div align="center" class="auto-style1">
<span class="TITULOS"></span> </div>
</td></tr>
<tr><td><div style="text-align: center;">
<img align="right" alt="" height="3" src="http://www.triplov.com/triplov_novo/pics/barra_menu.gif" width="529" /></div>
</td></tr>
<tr><td><!-- Search Google --><!-- Search Google --> <span class="negrito"> </span><br />
<span class="negrito"></span><br />
<span class="negrito">Tenho de começar este texto recordando os sinónimos da palavra “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">cobardia</i>”. Se começa por ser falta de força moral, ausência de coragem, rapidamente se transforma em deslealdade, em baixeza, em perversidade e em traição – ou seja, em maldade. A esta perigosa forma de fraqueza (que normalmente caracteriza pessoas, sociedades e regimes que só são fortes perante os fracos), tenho de somar contudo a ignorância – não apenas falta de conhecimento, mas também ausência de instrução, de cultura e de saber. Perigosa estupidez, quando elevada aos cumes da técnica, transforma-se em maldade, numa maldade convencida e sobranceira.</span><br />
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">A reforma administrativa, recentemente “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">proposta</i>” ao governo e ao parlamento, não parece dispensar qualquer destes ingredientes. É cobarde – porque é desleal, traidora, perversa e maldosa, ao escolher a adopção de uma violência inusitada contra os fracos, como forma de protecção dos fortes. É ignorante, inculta, iletrada e maldosa – porque a sua concepção (além de critérios financeiros, demográficos e outros que só o diabo conhece), não teve em conta nem a geografia, nem a história, nem a sociologia e muito menos a economia e a política. Tais qualificativos bastariam para lhe atribuirmos o epíteto de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ignóbil porcaria</i>”, não se tratasse ainda de um acto discricionário onde saltam à vista a incompetência técnica, um espírito anti-democrático e um total desprezo pelos mais elementares direitos do ser humano que vive em sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Se este conjunto de documentos não manifesta incompetência, então é, deliberadamente, um exemplo de mentira, o que, a ser verdade, revelaria critérios de actuação política só admissíveis em ditadura ou tirania. Como se explica, por exemplo, que num dos relatórios se proponha a extinção de duas freguesias do concelho de Portalegre (Carreiras e São Julião) porque as respectivas sedes distam apenas cerca de dois quilómetros<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> “sem acidentes orográficos ou outros obstáculos relevantes” </i>pelo meio, quando, na realidade, a distância entre elas é muito maior, tendo a dividi-las montes e serras com reconhecida altitude (num dos casos, o alto de São Mamede, ponto cimeiro a sul do Tejo, com mais de mil metros)? <o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Há, ainda, a admissão de critérios tirados da roleta. Como é possível que, numa sede municipal como Castelo de Vide, só porque tem a sorte de estar num concelho com apenas quatro freguesias, se mantenham três delas no interior de uma vila pequena – e uma cidade com a dimensão de Setúbal, porque tem mais autarquias, seja obrigada a ficar apenas com uma no seu núcleo urbano?<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Das três, uma: ou houve incompetência, ou houve desleixo, ou houve maldade, maldade substanciada na manipulação de dados como forma de fundamentar o inaceitável. E tudo pago, e decerto bem pago, com o dinheiro dos contribuintes, tão escasso! <o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Esta reforma é, ainda, anti-democrática. Não respeita qualquer praxe de um regime livre. Afirma, por exemplo, que a pronúncia de uma assembleia municipal pela conservação de todas as freguesias do seu concelho é considerada uma não-pronúncia… Mais grave que isto é, contudo, retirar às populações residentes e proprietárias o direito de se pronunciarem directamente sobre o seu futuro. Só aos eleitores/contribuintes caberia decidir, num eventual referendo, a manutenção da sua freguesia, a sua junção com outra vizinha e, até, a possibilidade de mudar de município, se essa fosse a vontade maioritária. Quem tem medo da voz do povo? Começo a dar razão àqueles que afirmam que Portugal parece uma democracia, mas na realidade está longe de o ser, seja gerido por socialistas ou por social-democratas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Integrada numa estratégia geral de abandono das populações fragilizadas do interior, esta maldosa e injusta “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">reforma</i>” é, ainda, violentadora dos direitos elementares dos mais fracos. Não pode ser vista isoladamente. É mais um passo da marcha para o abismo do mundo rural, do caminho para a desertificação, que tem levado ao encerramento de maternidades, escolas, centros de saúde, hospitais, postos de correio, tribunais, quartéis, etc.. Há neste momento aldeias que são antecâmaras da morte: só têm casas, total ou parcialmente desabitadas ou arruinadas, lar de idosos, igreja para missas de sufrágio e cemitério. Tudo o mais foi abandonado pelos poderes públicos – o que se acentuará com rapidez se esta reforma for por diante como está.<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Sendo evidente que pouca poupança trará a extinção de mais de um milhar de freguesias, haveria ainda assim outras formas de reduzir a despesa, nomeadamente nos municípios e noutros serviços supérfluos do Estado. A opção foi, contudo, assassinar num terço das nossas terras o único órgão eleito que serve povoações com escasso acesso a outros meios de acção sócio-política. Valeria a pena reformar com saber a administração da grande faixa litoral e promover medidas que atraíssem mais habitantes ao interior, numa estratégia de discriminação positiva. Mas não é esse o objectivo dos cobardes e velhacos que há muito decidiram esvaziar o interior para melhor o ocuparem e dominarem com “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">projectos de interesse nacional</i>” que só a eles interessam (assim me confidenciou há cerca de um ano um homem que ocupou o cargo de ministro). Sabem que, do outro lado, terão pouca luta, pois os adversários são pessoas envelhecidas ou cidadãos sem meios para expressarem a sua indignação e a sua revolta. Sabem que, ao seu lado, está a ignorância de uma população urbana que despreza tudo quanto vá além do seu mesquinho mundo exibicionista e consumista…<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Chegados a este ponto, urge perguntar sem medo se não existirão traidores por obras ou por omissão. Devemos estranhar a falta de acção de alguns políticos, de alguns autarcas que pouco ou nada dizem, pouco ou nada fazem, que talvez de propósito fundamentaram mal as decisões tomadas. Não seria inédito se, mais uma vez, trocassem o bem-estar dos seus conterrâneos por futuros proveitos, por benefícios vindouros retirados da nova organização do território. Pensarão, em segredo, no novo fôlego que ganharão em freguesias refundidas, agora que já não podem concorrer àquela que dominaram durante anos a fio. Há sempre traidores – e nem sempre distantes. É preciso estar alerta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span class="auto-style2" style="mso-tab-count: 1;"> </span><span class="auto-style2">Quanto a nós, simples cidadãos, é importante continuar a lutar, ainda que o pior venha a acontecer. E, se o pior acontecer, transformemos a extinta autarquia numa comunidade. Ou seja, mesmo que a freguesia desapareça, devemos continuar a viver em comum, a trabalhar para o bem comum, fazendo valer os nossos direitos. Será preciso trabalhar para futuro, com os olhos abertos, olhos postos numa identidade que deve ser reconquistada e reinventada como alicerce de um novo e inovador edifício social e convivente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="negrito">
<o:p> </o:p></div>
<div align="right" class="negrito" style="line-height: normal; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span class="auto-style2"></span></i> </div>
<div align="right" class="negrito" style="line-height: normal; text-align: right;">
<span class="auto-style2"><strong>Ruy Ventura</strong></span></div>
<div align="right" class="negrito" style="line-height: normal; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span class="auto-style2"><span style="font-size: x-small;">Vila Nogueira de Azeitão, Novembro de 2012</span></span></i></div>
</td></tr>
</tbody>
</table>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-56138582244401868402012-11-15T01:51:00.002-08:002012-11-15T03:25:52.118-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div style="text-align: center;">
<strong><span style="font-size: x-large;">PEQUENOS INDÍCIOS</span></strong></div>
<br />
Resolvi nesta crónica não sair do pequeno território em que costumo mover-me. Às vezes, para compreendermos o mundo, basta atentarmos em quanto nos rodeia e percebermos até que ponto acontecimentos insignificantes são sintomas do que se passa e indícios do que poderá vir a passar-se na sociedade.<br />
Há poucos dias, uma horda nocturna de adolescentes e jovens adultos atormentou as ruas do meu bairro. Aproveitando a "<em>licença</em>" concedida por uma "<em>festa</em>" que nada tem que ver com a cultura do nosso país, resolveram vandalizar as paredes de várias habitações com pinturas e inscrições obscenas, partir janelas de um estabelecimento comercial, danificar uma central eléctrica e destruir mais alguma propriedade pública, de todos. Apesar do barulho animalesco, do posto das forças de segurança, a duzentos metros, não veio qualquer reacção. Nas mesmas ruas, segundo me contaram, vai sendo hábito aparecerem em pleno dia carros com pneus esfaqueados e pintura riscada. Sem que as autoridades façam algo para evitar tal situação. Há até quem afirme que os agentes já declararam saber quem pratica tais actos: os mesmos que até têm assaltado algumas vivendas, mas que não é possível responsabilizar sem haver flagrante. Desse flagrante se foge, contudo, não patrulhando as ruas como deve ser, surgindo nos locais do crime, mesmo que sejam a duzentos metros, meia hora ou três quartos de hora depois. Zelo só existe na autuação de automóveis mal estacionados, desde que não estejam na rua da esquadra, porque aí o espaço sobre os passeios pertence aos veículos dos próprios membros da agremiação.<br />
No meu local de trabalho, ouço que três membros de uma comunidade que persiste na sua auto-discriminação resolveram invadir as instalações para sovarem algumas crianças com cor de pele diferente. Nas imediações, vejo donos de estabelecimentos comerciais quase falidos a transportarem os seus filhos - pasmemo-nos - em automóveis topo de gama. Finjo que estou distraído e ouço palavrões contra uma figura que se tem justamente notabilizado na luta contra a fome no nosso país. Dizem, alto e do alto da sua justiça, que ninguém tem o direito de sugerir que devemos prescindir dos lautos lanches na pastelaria, das mariscadas ao fim de semana, das férias em países estrangeiros, da frequência de bares e de discotecas, da assistência a concertos de música pop ou pimba cujos bilhetes custam o valor dos alimentos consumidos durante uma semana por uma família normal. <br />
Apuro o ouvido na rua e oiço a revolta dos meus concidadãos, apelando (talvez sem saberem) ao despedimento de funcionários públicos e ao encerramento de serviços, de que, depois, terão saudades, organizando manifestações para que voltem a abrir. Ligo o computador e leio alguns textos, plenos de ira e de insanidade, que se publicam na internet. Há quem apele à morte de todos os políticos - desejando, decerto inconscientemente, o regresso de regimes autocráticos, ditatoriais e tirânicos, em que um único político chega para tudo dominar, decerto com menor despesa (Salazar por essas e por outras tem sido considerado um "<em>santo ditador</em>").<br />
Chego a casa, abro um livro de José Ortega y Gasset. Leio: "<em>É indiferente se [o homem massificado] se mascara de reaccionário ou de revolucionário: activa ou passivamente, dando umas ou outras voltas, o seu estado de ânimo consistirá, decisivamente, em ignorar toda a obrigação e em sentir-se, sem que suspeite das razões, detentor de ilimitados direitos.</em>" Continuo: "<em>as massas crêem que têm o direito de impor e de dar vigor de lei às suas conversas de café</em>". Não páro: "<em>[...] a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem a ousadia de afirmar o direito à vulgaridade e impõe-no em qualquer lado. [...] Quem não seja como os outros, corre o risco de ser eliminado.</em>"<br />
Segundo o escritor espanhol, estas e outras características do "<em>homem massificado</em>" deram origem, nas primeiras décadas do século XX, aos horrores do fascismo, do nazismo e do comunismo. Pergunto-me, com alguma angústia, a que abismo nos levarão agora.<br />
<br />
<div align="right">
Ruy Ventura</div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-67649812558612879212012-11-02T02:17:00.002-07:002012-11-02T03:08:04.292-07:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDUBM9QUe58ltRasVUjRnzwf1I-C3aTnbLXonl8YC9-dcFM1KKgup5Fgc26YSoyCkuURlIbIztcrCNxNThcOjJNNeKhDHyWnEpdYtmc11fyr3lXA09YvicvPGZcoZ9AShyHYlJLKSJjOk/s1600/portugal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDUBM9QUe58ltRasVUjRnzwf1I-C3aTnbLXonl8YC9-dcFM1KKgup5Fgc26YSoyCkuURlIbIztcrCNxNThcOjJNNeKhDHyWnEpdYtmc11fyr3lXA09YvicvPGZcoZ9AShyHYlJLKSJjOk/s640/portugal.jpg" width="548" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ilustração de Luís Afonso.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b>NA TERRA DO CONTO DO VIGÁRIO</b></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Portugal é uma
plutocracia financeira de espécie asinina. É, como todos os países modernos,
[…] uma oligarquia de simuladores. Mas é uma oligarquia de simuladores
provincianos, pouco industriados na própria histeria postiça. Ninguém já engana
ninguém – o que é tristíssimo – na terra natal do Conto do Vigário. Não temos
senão os vigaristas de praça como prova de qualquer sobrevivência das
qualidades de intrujice da nação. Ora um país sem grandes intrujões é um país
perdido, porque a civilização, em qualquer dos seus níveis, é essencialmente a
organização da artificialidade, isto é, da intrujice. ‘Quem não intruja não
come’</i>”.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Não, estas palavras – como é bom de ver – não são
minhas. Não me importaria de tê-las escrito – porque com elas concordo –, mas
não me pertencem senão enquanto leitor. Apesar de ter colegas na sala de
professores da minha escola e muitos compatriotas meus que, do alto da sua
inteligência, põem no caixote do lixo todas as doutrinas e opiniões que não
tenham sido estruturadas por estrelas vivas e decadentes, continuo a
orgulhar-me de quanto me foi dado ler ao longo da vida. Quem escreveu as
palavras que transcrevi chamou-se Fernando António Nogueira Pessoa, corria o
ano de 1925 – e só agora vieram a lume, conhecendo a luz da edição (saberá o Diabo
porquê).</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Nesse mesmo texto, entrevista inventada que regista as
opiniões de um dos seus heterónimos mais incompreendidos e, por isso mesmo,
mais afamados (Álvaro de Campos), o autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mensagem</i> diz verdades tão importantes quanto estas: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A massa do país nunca importa. Julga alguém
que o ‘povo’ faz revoluções? […] A maioria é essencialmente espectadora. […] O
eleitor não escolhe o que quer; escolhe entre isto e aquilo que lhe dão, o que
é diferente. Tudo é oligárquico na vida das sociedades. […]</i>” E acrescenta:
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não há correntes proletárias, […] não há
radicalismo em parte nenhuma. Tudo isso é o avesso da plutocracia financeira, e
é provavelmente dirigido e financiado por ela. Não há nenhum movimento radical
que não seja movido, em última causa, pelo Frankfurter Bund, ou por qualquer
outro organismo derivado da Internacional Financeira […]</i>”.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Não será necessário recordar que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">plutocracia</i>” é o governo dos ricos e dos usurários e que a “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">oligarquia</i>” é o poder dos poucos que
detêm influência sobre a maioria que não tem nem capital nem voz.
Frequentemente – como acontece em tantos lugares e países nos nossos dias – uma
e outra juntam-se, refinam-se, transformando-se numa “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">cleptocracia</i>”: o governo dos ladrões. Mas adiante. Com toda a sua
ironia e sarcasmo, Pessoa chega a escrever ao Demo, sugerindo-lhe medidas de
saneamento social:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É preciso criar
abismos, para a humanidade que os não sabe saltar se engolfar neles para
sempre. § Criar todos os prazeres, os mais artificiais possível, os mais
estúpidos possível, para que a chama atraia e queime. § O problema da
sobrepovoação, o problema da sobreprodução eliminam-se criando-se focos de
eliminação humana (por meio de todos os vícios), criando focos de inércia
humana (por meio de todas as seduções). Fazer suicidas, eis a grande solução
sociológica. […] É nosso dever de sociólogos untar o chão, ainda que seja com
lágrimas, para que escorreguem nele os que dançam. […] Depois, dos recantos das
províncias […] os fortes surgem e a civilização continua. […] a Realidade é um bocado
de sol simples, um quintal herdado e a certeza de ser um indivíduo.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Quem tiver ouvidos para ouvir, que oiça! Não são
necessárias explicações adicionais, nem é preciso “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fazer um desenho</i>” para explicar o que Pessoa disse e quis dizer. Termino
com um excerto de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ultimatum</i>”,
assinado pelo mesmo autor em plena Primeira Guerra Mundial: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Europa tem sede de que se crie, tem fome
de Futuro! § […] Quer o Político que construa conscientemente os destinos
inconscientes do seu Povo! § Quer o Poeta que busque a Imortalidade
ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os
produtos farmacêuticos! § Quer o General que combata pelo Triunfo Construtivo,
não pela vitória em que apenas se derrotam os outros.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Repito:
quem tiver ouvidos para ouvir, que oiça! E não se deixe levar pelo ruído
sedutor que está por todo lado, a começar pelas nossas casas, onde entra pela
televisão e pela internet.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ruy Ventura</span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-32904368103737572662012-10-24T08:25:00.000-07:002012-10-24T08:30:34.625-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg31y1FpRW8beHd4zjnrdh_GkUV579IvZegmirezwppcaJyKGEa1_lC3Kwuj_MsF5yAw6gUQbDbbMw_y_qRup1n5DBnxjmDrVkRDMPzkLSPyB1NYFn_3MPv2Hj_67lLUAp53SfbE4eg1KE/s1600/Crise.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg31y1FpRW8beHd4zjnrdh_GkUV579IvZegmirezwppcaJyKGEa1_lC3Kwuj_MsF5yAw6gUQbDbbMw_y_qRup1n5DBnxjmDrVkRDMPzkLSPyB1NYFn_3MPv2Hj_67lLUAp53SfbE4eg1KE/s640/Crise.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt;"><strong><span style="font-size: x-large;"><span style="color: #990000;">A NORMA E A CRISE<o:p></o:p></span></span></strong></span></div>
<span style="font-size: 14pt;">Não é nova a teoria de que tudo, no mundo, oscila
entre a norma e a crise. Podemos ver neste movimento a afirmação de Eça de
Queirós, segundo a qual a História é uma velhota que se repete sem cessar, ou
essoutra visão do devir humano em que os acontecimentos surgem sob o símbolo do
pêndulo. Ou seja, periodicamente há uma repetição modificada de convulsões e
pacificações, de disforias e euforias, de depressões e acalmias. Houve mesmo
quem, a partir desta concepção da História, teorizasse o percurso das revoluções
científicas, sublinhando que a passagem de uma norma a outra norma (ou seja, de
um paradigma a outro paradigma) só se faz através de períodos mais ou menos
dilatados de crise e de intensa discussão.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Se olharmos atentamente, sem paixão mas com interesse,
para tudo quanto se vem passando no mundo ocidental, sobretudo nos países
sujeitos a uma penúria financeira (entre os quais, Portugal), não é difícil
perceber que se inicia, agora de forma generalizada, um período de transição
nas relações sociais, políticas e económicas. O paradigma anterior estilhaçou.
O que era normal deixou de o ser. Há muito que vozes autorizadas e
clarividentes o vinham anunciando, algumas delas há mais de um século. Mas foi
preciso que a norma vigente – suportada não pela dignidade humana, mas pelo
império do dinheiro, dos jogos financeiros e das suas diabólicas seduções e
intenções – rebentasse, para que todos nos movimentássemos e começássemos a
agir.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">É esta a crise – e não apenas a falta de dinheiro nas
nossas contas bancárias. Há quem lhe chame “crise de valores” – e não está mal
visto. Creio que ela não cessará enquanto os seres humanos não mudarem por
completo as suas relações com a Natureza, com a Memória, com os seus
semelhantes, com o Poder político e social, com o Trabalho, com a Educação, com
a Saúde, com o dinheiro, com tudo quando os rodeia, os eleva e os limita.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">A maioria dos nossos concidadãos, por enquanto, ainda
reivindica apenas uma “devolução”, a devolução de um tempo dourado em que não
faltava numerário (próprio ou emprestado) para tudo e mais alguma coisa. Mas, a
pouco e pouco, vão-se ouvindo frases que desejam uma mudança verdadeira e
completa. Infelizmente, a miopia, a falta de conhecimento da História ou a
maldade leva muitos dos autores dessas reivindicações a misturarem realidade
com ficção, a desejarem (consciente ou inconscientemente) o regresso a
“soluções” que, de forma directa ou indirecta, deram nascimento a algumas das
maiores monstruosidades políticas e sociais dos últimos cento e cinquenta anos.
Lembro o comunismo nas suas várias expressões localizadas e, obviamente, o
nazismo e outras formas de poder tirânico mais ou menos evidentes. É preciso
ter muito cuidado neste tempo em que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ninguém
sabe que coisa quer. / Ninguém conhece que alma tem, / Nem o que é mal nem o
que é bem.</i>” (Fernando Pessoa).<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Angustia-nos termos consciência de que este período de
crise ou de transição poderá ser mais longo do que se espera. Mais tarde ou
mais cedo, afectará, assim o creio, todos os países que têm vivido sob o mesmo paradigma
(mesmo aqueles que agora se apresentam como “credores”), norma em que o ter
estrangulou o ser. A resistência deve ser feita tendo em conta a memória ou
lembrança do que nos antecedeu e cessou e um olhar virado para o futuro,
esperançoso. Se necessário, não deveremos ter medo de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">abdicar</i>” para sermos outra vez “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">reis</i>”
do nosso destino. Talvez tenhamos de admitir as palavras de Teixeira de
Pascoaes, ditas em 1925: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“[…] estamos
numa época caótica e de transição, de que há-de nascer uma nova harmonia social,
para além de quaisquer formas de governo, que não me interessam. […] É preciso
[…] que se dê uma grande renascimento religioso, porque só pela religião, pela
Fé em Deus, se pode redimir a Humanidade.</i>”<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-9641329747206516612012-10-24T08:20:00.001-07:002012-10-24T08:20:52.016-07:00
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpvOjfFzoeRKjB-pOo-Q228eAESCImgw7PiSSQM1ljlnFmKj8eNF8eXnUGLxQv5QrsHO0AFXA7O9AsXnWJGlpdKqBvVBrISM9alfJXKDkkLQmqoiEcnbW3RUce0MC2o5vFn0o5ICpAH-s/s1600/pobrezapedintes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="534" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpvOjfFzoeRKjB-pOo-Q228eAESCImgw7PiSSQM1ljlnFmKj8eNF8eXnUGLxQv5QrsHO0AFXA7O9AsXnWJGlpdKqBvVBrISM9alfJXKDkkLQmqoiEcnbW3RUce0MC2o5vFn0o5ICpAH-s/s640/pobrezapedintes.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt;"><strong><span style="font-size: x-large;"><span style="color: #990000;"></span></span></strong></span> </div>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt;"><strong><span style="font-size: x-large;"><span style="color: #990000;">PALAVRAS QUE FAZEM VER<o:p></o:p></span></span></strong></span></div>
<br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;">Projectos de investigação diferentes, que nos últimos
tempos me têm ocupado, levaram-me ao encontro de vozes e pensamentos diversos,
mas confluentes. Têm todos eles um centro – a percepção das relações sociais e
políticas em tempos de crise e de desigualdade entre os homens. </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 1em 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"></span><span style="font-size: 14pt;">Há cerca de dois mil anos, alguém escreveu numa carta:
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[…] ricos, chorai em altos gritos por
causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres, e as
vossas vestes comidas pela traça. […] Olhai que o salário que não pagastes aos
trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos
ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra,
entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia
da matança!</i>”<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: 14pt;">No século XII, houve por sua vez quem dissesse sem
hesitações nem medos: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os ricos e
poderosos roubam aos pobres os seus haveres, adquiridos com suor e lágrimas.
Ainda por cima, chamam-lhes seus vilãos, quando eles é que são vilãos do diabo.
[…] O rico deste mundo perverte a justiça, roubando os pobres ou não lhes dando
o que é seu.</i>” E acrescenta com igual ousadia e firmeza: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É sacrilégio dar a pertença dos pobres a
quem o não é. Se dás a um parente, deves dar não por ser parente mas por ser
pobre. […] Não dês, portanto, sangue ao sangue, mas dá ao peregrino e ao pobre.</i>”<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Já muito mais perto de nós, um dos gigantes da nossa
literatura portuguesa e da literatura de qualquer parte do mundo afirmou: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[…] um novo e inesperado actor calcou o
tablado. […] Ao pé dele tudo é mesquinho: homens de estado, negociações,
guerreiros e príncipes. Salvou-nos. E logo que nos salvou sumiu-se na mesma
estúpida resignação […]. Mas nem tudo se perde: alguma coisa de amargo – dúvida
ou cólera – ficou na consciência colectiva, que há-de desentranhar-se no futuro
em novos gritos. Esperemos o que a noite vai gerando…</i>”<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Acrescento a estas erupções verbais, tão oportunas, as
palavras ditas por um homem do povo mais humilde, ou seja, mais próximo do
húmus, da terra fértil: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Quem trabalha e
mata a fome / Não come o pão de ninguém; / Mas quem não trabalha e come, / Come
sempre o pão de alguém!</i>” “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entre
grandes e pequenos / Ficávamos quase iguais, / Dando a uns um pouco menos / E a
outros um pouco mais.</i>” “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vós que lá do
vosso império / Prometeis um mundo novo, / Calai-vos, que pode o povo / Q’rer
um mundo novo a sério.</i>”<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Que interessa que estes textos tenham sido escritos em
momentos distintos da História da Humanidade? É importante sabermos que eles
saíram da mão e/ou do pensamento de Tiago-o-Justo, Santo António de Lisboa,
Raul Brandão ou António Aleixo? Parece-me que não. Importa a sua justiça, a
clarividência que nos dão e a mudança de atitudes que possam propor ou
proporcionar. Assim eles fiquem na nossa memória, na memória de quem os lê, e
empurrem para aquilo que interessa nestes tempos conturbados, de transição: a
mudança e o avanço.<o:p></o:p></span><br />
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-80659071699922458992012-09-18T05:05:00.000-07:002012-09-18T05:05:00.916-07:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
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<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;"><span style="line-height: 115%;">MANIFESTAÇÃO E MUDANÇA</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Se queres que os
portugueses se mexam, vai-lhes aos víveres</i>”. Não sei bem quem é o autor
desta frase. Há quem diga que foi escrita por Eça de Queirós – e é bem
possível. Muito nos faz palrar ou falar, pouco nos move. Mas quando se trata de
defender o nosso rendimento, não hesitamos. E fazemos bem – embora façamos
pouco. Muito pouco.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Raramente participo em manifestações. Mesmo quando concordo
com as motivações que levam os meus compatriotas a desfilar pela rua. Não tenho
feitio nem paciência para ajuntamentos e, além disso, julgo que são mais
eficazes outras estratégias ardilosas de exposição da opinião colectiva ou da
indignação de uma comunidade ou de um grupo profissional. Tal não significa,
contudo, que rejeite ou reprove esta forma de luta – desde que seja expressão
de uma ânsia de justiça social, em prol da dignidade da pessoa humana. Quando
tal acontece (e nem sempre acontece…), emociono-me, mesmo à distância. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os portugueses vêm manifestando de muitas e variadas formas o
seu repúdio contra as medidas “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">de
austeridade</i>” postas em prática por este governo, impulsionado pelas
organizações internacionais que nos emprestaram dinheiro para que o Estado
cumprisse as suas obrigações, nomeadamente o pagamento de salários e de
pensões. Não têm feito mal. É até proveitoso interna e externamente, pois assim
se sublinha que a estratégia não pode ser aplicada “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">custe o que custar</i>” e que há outras vias – mais equilibradas e mais
dignificantes – para chegar ao mesmo lugar. Temo, contudo, que estes episódios
de comoção colectiva não passem de explosões de alma sem consequências na
mudança de vida e de mentalidade, de actos de rebeldia que não chegam a uma
verdadeira epifania da liberdade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Infelizmente, se circularmos pela internet e por outros espaços
de discussão aberta, chegamos à conclusão de que as palavras do escritor
espanhol Miguel de Unamuno, escritas há um século, continuam actuais,
infelizmente. Uma boa parte dos portugueses é submissa “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">até quando se rebela. […] Têm a cólera do veado ou do carneiro, que os
leva a actos de violência frenética. Quando o ovino se irrita, arremete contra
o primeiro que encontra, e depois tudo fica como dantes. Por aí se explica o
regicídio e as suas consequências. Rebeldia, sim; independência, não. Aqui,
como na Galiza, pode florescer o anarquismo, mas não o sentimento de verdadeira
liberdade. E a anarquia é servidão.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Acredito e acreditarei na justiça das manifestações surgidas
e a surgir, se elas forem expressão de independência de espírito e de um olhar
poliédrico sobre os erros que nos trouxeram até aqui. Passos Coelho e o seu
governo merecem palavras indignadas sempre que não tomarem decisões certas e
patrióticas, mas igualmente devem ser alvo da nossa voz exaltada Sócrates e os
seus auxiliares no regabofe dos últimos anos, os cidadãos que se deixaram
deslumbrar por autarcas e governantes fazedores de obra a todo o custo, os
portugueses que nunca hesitaram em pedir “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">um
jeitinho</i>” (e são tantos), os nossos compatriotas que corromperam e foram
corrompidos, aqueles para quem não há vida além do subsídio, quantos têm
contribuído para o desemprego por actos e por omissões, os agentes que têm
transformado a justiça em injustiça, a União Europeia que engulosou meio-mundo
com dinheiro fácil “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a fundo perdido</i>”
e pagou para não se produzir, etc., etc.. Tirando uma curta faixa de jovens e de
crianças, todos somos um pouco ou muito culpados… Na encruzilhada em que
estamos, uma manifestação tem de ser um acto de protesto, mas também um momento
de catarse, de contrição e de propósito de mudança.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma pancada nos olhos
faz ver</i>”, como afirmava uma frase inscrita num armazém de Cacilhas? Fará
ver se abrirmos os olhos e virmos quem e o que nos bateu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Há, no entanto, algo que nos devemos recusar a aceitar. Custe
o que custar. São os ataques à dignidade humana, expressos no desemprego
injustificado, nos salários indignos, nos horários de trabalho iníquos, nas
políticas anti-familiares, nos ardis que visam estupidificar os cidadãos, na
erosão do direito à saúde, à educação e à cultura, no esvaziamento calculado do
interior, nas estratégias promotoras do êxodo e da emigração. Contra eles,
devemos lutar por todas as vias, sem tréguas, sem hesitações. Esta tarefa árdua
merece a manifestação das nossas convicções, do nosso empenho e do nosso
trabalho.</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ruy Ventura</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-62917477806857619262012-09-14T01:02:00.002-07:002012-09-14T01:02:56.065-07:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="line-height: 115%;">QUATRO PERGUNTAS</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Li há
pouco tempo um texto que é oportuno partilhar. A tradução é minha, dado que o
original foi escrito num castelhano do século XVI:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que se pode comprar com este dinheiro que
desejamos? Será coisa valiosa? Será coisa durável? Queremo-lo para quê? Negro
descanso se procura, que tão caro custa. Muitas vezes se procura com ele o
inferno e se compra fogo perdurável e penas sem fim. Se todos o atirassem à
terra, sem dele querer saber, que concertado andaria o mundo, sem canseiras!
Com que amizade nos trataríamos todos se acabasse o desejo de honrarias e
dinheiro. Tenho para mim que tudo se remediaria.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Parece
ofensivo falar deste modo, ir buscar um texto como este, nos tempos que fogem
(já não correm, fogem). Parece falta de respeito por aqueles que, nestes dias,
passam fome e muito mais – ou, pelo menos, vivem apertados nos seus cada vez
mais esqueléticos orçamentos familiares. E, no entanto, as quatro perguntas
sobre o dinheiro martelam no cérebro: – Que se pode comprar com ele? – Serão
coisas com real valor? – Serão duráveis? – Para que o queremos? (Será bom
meditarmos nelas.)</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No
parágrafo transcrito, repare-se, não se discutem as facilidades concedidas pelo
uso do dinheiro como meio simbólico nas transacções comerciais – e muito menos
se põe em causa o direito de cada um ter uma retribuição justa pelo seu
trabalho desempenhado com zelo e competência. Põe em causa, sim, a colocação do
dinheiro no centro da existência humana, destruindo a capacidade de os membros
da nossa espécie se moverem em direcção à verdadeira vida, isto é, em direcção
a uma vivência espiritualmente superior (uma super-vivência ou sobre-vivência).
</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sei bem
que é loucura falar disto. A televisão, os concursos estúpidos e/ou
estupidificantes, a revistas cor-de-rosa, a inveja e a cobiça – tão habilmente
manipulados pelo “marketing” empresarial, em várias décadas de bombardeamento e
lavagem ao cérebro – já destruíram na maior parte dos nossos semelhantes
qualquer aspiração que vá além dos desejos de dinheiro (adquirido sem esforço),
de honrarias (merecidas ou não), de sucesso social e financeiro, de um poder de
compra que leve à aquisição de bens que nunca nos tornarão melhores seres
humanos (mas, com frequência, nos põem à porta de instintos animalescos). Falar
numa existência digna – em que da satisfação das necessidades básicas (na
alimentação, na habitação, na locomoção, na saúde e na educação) se passe a uma
vivência mais elevada – é falar em algo de bizarro!</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>E, no
entanto, todos precisamos dessa forma de vida. Talvez por não termos ainda
tomado consciência de que a meta a alcançar se situa nesse lugar alto, andamos
angustiados, às vezes desesperados, pois esta crise, sendo financeira e
económica, constitui sobretudo um abanão que nos obriga a ver o engano em que
caímos, em que fomos caindo – ou, melhor, o abismo para onde nos atiraram. Ao
não queremos ver, fechamos os olhos e tornamo-nos vulneráveis, sujeitos a
perecer frente a qualquer perigo. A maioria da humanidade deseja enriquecer por
fora, quando precisa apenas do essencial e, depois dele, de um enriquecimento
interior, de algo que preencha o vazio existencial que caracteriza a nossa
sociedade. </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há
muitas receitas para lá chegar. Cada um terá a sua, terá de construí-la. A
autora do parágrafo com que iniciei este texto propôs a sua. Chamou-se Teresa
de Ahumada e é conhecida em todo o mundo como Santa Teresa de Jesus ou de
Ávila. Dizem assim os seus versos:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nada te turve / Nada te espante / Tudo
acontece / Deus não se muda / Com paciência / Tudo se alcança / Quem a Deus tem
/ Nada lhe falta / Só Deus basta.</i>”</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ruy Ventura</span></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdjbAvKhrIYww-QaV-He9La_1WTQuPAomChQTpPlSe25T4USuccQzGPzw3pt2WnsXIoEBMj1lChtJmjV6kWdzMAa1I0AbnPQa_LKPwpknN5u0g5WAmyNyIU0iiqtycSlbt45MXPYA2FM4/s1600/DSC07257.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdjbAvKhrIYww-QaV-He9La_1WTQuPAomChQTpPlSe25T4USuccQzGPzw3pt2WnsXIoEBMj1lChtJmjV6kWdzMAa1I0AbnPQa_LKPwpknN5u0g5WAmyNyIU0iiqtycSlbt45MXPYA2FM4/s640/DSC07257.JPG" width="506" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Santa Teresa de Jesus", escultura em madeira do século XVIII (Museu Municipal de Portalegre)</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-54801304200705337112012-09-05T02:58:00.001-07:002012-09-05T02:58:35.654-07:00<!--[if gte mso 9]><xml>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="line-height: 115%;">PÓRTICOS DO DESEMPREGO</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Regressei há dias de férias. Por
enquanto, ainda faço parte do grupo privilegiado cujas férias têm fim. (Há quem
tenha “férias” intermináveis e não saiba o que fazer à vida…) Foi um mês de
contenção, pois entre os trabalhadores deste país pertenço ao número daqueles
que deixaram de ter ordenado dobrado no Verão. Não fosse a recente decisão do
Tribunal Constitucional – e até pareceria que os únicos beneficiários do
regabofe despesista dos últimos governos haviam sido os funcionários públicos,
entre os quais orgulhosamente me incluo…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Dos poucos passeios que o
orçamento familiar permitiu, trouxe na memória a rapidez com que agora se
circula nas auto-estradas. É uma maravilha…, fatal, da nossa idade. Sem
dinheiro para o combustível, poucos se aventuram a sair da toca, num tempo de
enganos em que a “conjuntura internacional” é pretexto para aumentar
desmesuradamente a gasolina e o gasóleo, mas já não serve para baixar os seus
preços.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Nem só o preço do alimento fóssil
aumentou, contudo, a velocidade de circulação nas vias rápidas. Agora temos
sobre auto-estradas uns objectos metálicos novos e algo estranhos, chamados
“pórticos”, que permitem a circulação vertiginosa, sem paragens para pagamento,
sem a chatice da saudação a um portageiro. (Serão pórticos do paraíso ou do
inferno?) Curiosamente, também nas portagens antigas o elemento humano está em
vias de extinção. Aí temos ainda de parar, mas já não damos os “bons dias” a um
simpático (ou antipático) cidadão. Temos de lidar, apenas, com uma maquineta
que recolhe o carcanhol e agradece com uma voz metálica, gravada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Não contesto a justiça do
princípio do “utilizador-pagador” nas auto-estradas portuguesas, desde que
existam vias alternativas onde se circule com segurança. Revolta-me contudo que
o acréscimo de lucro das concessionárias não se traduza num retorno social
justo, através da criação de um maior número de postos de trabalho. Pagaria a
portagem com muito menor azedume se soubesse que esse dinheiro contribuiria
para o emprego de um portageiro com família.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Nós, contudo, não estamos livres
de culpas nesta substituição do homem pela máquina – com consequente aumento do
desemprego –, pois deixamo-nos enganar pelos ardis de um capitalismo
desumanizante e esclavagista, quando cedemos ao comodismo e à preguiça. Sempre
que usamos uma máquina para a execução de uma tarefa que poderia ser feita por
um semelhante nosso, com a devida remuneração, estamos a contribuir para o
despedimento de trabalhadores úteis, em idade activa. Se compramos em lojas
“on-line” estamos a fechar locais de comércio com rosto, se praticamos todas as
operações bancárias no “multibanco” ou na “internet” estamos a despedir pessoas
com que nos cruzamos todos os dias. São apenas dois exemplos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O desemprego não é apenas um
problema dos indivíduos afectados por uma rasteira da vida. É um terramoto
social que, mais cedo ou mais tarde, provocará convulsões sociais seríssimas.
Sempre que contribuímos para a substituição do homem pela máquina estamos a
trabalhar ao lado daqueles que desejam a substituição de seres livres por seres
escravizados (e, já agora, alienados por uma boca dose de trampa televisiva).</span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-88952688984409256712012-09-05T02:53:00.000-07:002012-09-06T05:11:10.332-07:00
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-large;"><b>A DIFERENÇA</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Sempre que estou na minha aldeia
de Carreiras, situada a poucos quilómetros de Castelo de Vide e a curta
distância da fronteira de Portugal com a Extremadura espanhola, aproveito para
dar umas voltas por terras de contrabando, assegurando-me de que as diferenças
entre povos dos dois lados são diminutas perante o muito que culturalmente nos
une. Não vou lá fazer compras – e, se as faço, é por acaso e não por acto
deliberado. Sou, aliás, uma pessoa pouco consumista – o que nestes tempos me
vem dando jeito, embora a penúria em que vivemos me obrigue a uma selecção
apertada do único bem que avidamente consumo: os livros (que não dispenso).
Verdade seja dita que o aperto até tem tido aspectos positivos. Desde que a
crise se instalou, muito menos lixo editorial tem entrado na minha casa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Num dos pequenos passeios que dei
nas férias de 2012, deparei-me com uma pequena cidade espanhola pejada de
pequeno comércio. Pelas ruas, o chamado “comércio tradicional” – passada a hora
da “siesta” – fervilhava de consumidores que, conversando, entravam e saíam das
lojas, transportando sacos de compras. E nem sequer faziam distinção entre
aquelas que têm um ar modernaço e as outras que, com modéstia, continuam a
mostrar uma face que nos faz lembrar tempos passados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O cenário contrário me assalta na
minha cidade de Portalegre e noutras (muitas) localidades portuguesas. Aí, passo
por “ruas de comércio” onde pouco mais resta do que o olhar deprimido e
suplicante de comerciantes e empregados, fitando o nada e o vazio, ou seja, a
ausência de clientes. As lojas das cidades lusas são muito diferentes das que
abrem portas do outro lado da fronteira? Não me parece. E os preços? Também
não… nem tanto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Notei contudo uma diferença
abissal entre as povoações. Enquanto na cidade espanhola não vi aberto ao
público consumidor qualquer centro comercial ou hipermercado, por cá eles são
presença constante e infestante. Rara é a terra portuguesa com mais de três ou
quatro mil habitantes que não tem um ou mais. Houve até autarcas com traços de
estupidez, de loucura ou de malvadez que aprovaram a construção de vários
estabelecimentos de grande superfície, uns aos lado dos outros. Com convicção
bacoca (ou não), justificaram a sua anuência com o argumento de que, assim,
nasceria “desenvolvimento” nas suas terras. Esqueceram (ou não) que, deste
modo, apenas promoviam a penúria e a desertificação no coração das suas cidades
e na vida dos seus concidadãos – trazendo Golias para dentro da casa de Davides
necessariamente mais fracos e sem instrumentos eficazes de combate. Junte-se a
este acto a permissão para a abertura de três ou quatro lojas de quinquilharia
chinesa e tivemos o veneno instalado e a morte anunciada. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">E nós, portugueses, vamos na
onda… Cada vez mais acéfalos, cada vez mais egoístas, cada vez mais palradores,
cada vez mais mesquinhos, sem percebermos as consequências dos nossos actos,
vamos gastando os últimos tostões nos hipermercados ou nas lojas onde se vendem
sempre os mesmos artigos orientais, baratos mas de fancaria… Eleitores e
eleitos, consumidores e comerciantes, todos somos portugueses e responsáveis,
uns por omissão e outros por acção, pelo ponto a que chegou o nosso país.</span></div>
Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-62038019101782414412012-06-28T02:08:00.001-07:002012-06-28T02:08:47.135-07:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmvWnxn49foPE8ZQ9DKP8xlYdlprHVYixoGDdYGGjkzYjwLp4epMA-5MORPJIff2z9-O_ryo4skUfOpuyKZBgmLOBQHD1oFXpHtQxC0zNi5RR5tG_eTQlgiOXOFhkYFkUaaZzFJnNxEAI/s1600/saramago2-1024x627.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="388" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmvWnxn49foPE8ZQ9DKP8xlYdlprHVYixoGDdYGGjkzYjwLp4epMA-5MORPJIff2z9-O_ryo4skUfOpuyKZBgmLOBQHD1oFXpHtQxC0zNi5RR5tG_eTQlgiOXOFhkYFkUaaZzFJnNxEAI/s640/saramago2-1024x627.jpg" width="640" /></a></div>
<h1 align="center" style="text-align: center;">
<br /></h1>
<h1 align="center" style="text-align: center;">
UM MAU ESCRITOR TALENTOSO</h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ao ver, há poucas semanas,
um texto de José Saramago no enunciado da prova final de Língua Portuguesa de
6º ano, recordei um saboroso e muito vertical artigo do filósofo e poeta Paulo
Tunhas sobre um ensaio de João Pedro George em torno dos livros de Margarida
Rebelo Pinto (p. 43 do nº 14 da revista <b><i>Atlântico</i></b>). A dada
altura, afirma (e com razão, a meu ver):<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
“[...] Cheguei à conclusão que Saramago é um mau
escritor talentoso, uma espécie vulgar. Palavroso, moralista, sem ponta de
ironia. Uma opinião, apesar de tudo, ligeiramente melhor do que aquela para a
qual, na minha ignorância, eu tendia naturalmente. Leva-se suficientemente a
sério para não se entediar a meio da escrita dos livros, e isso permite-lhe um
certo élan, naturalmente interdito a espíritos mais voláteis ou simplesmente
mais lúcidos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Como a memória tem coisas que
ninguém entende, enquanto lia estas frases recordei uma crónica do crítico e
ensaísta Fernando Venâncio, onde – delicada e ironicamente – punha a nu os
espanholismos desnecessários que enxameiam as obras do romancista, não como
recursos estilísticos, o que seria normal, mas como pés que resvalam para a
poça, como descuidos que um bom revisor nunca deveria permitir. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sobre o homem-Saramago reencontrei
ainda um artigo de José do Carmo Francisco intitulado: <i>“Será José Saramago
um fotógrafo de Estaline? (Crónica para os olhos tristes de Maria Belmira)”</i>,
vindo a lume no nº 29 de suplemento <b><i>Fanal</i></b> do jornal <b><i>O
Distrito de Portalegre</i></b> (22/11/2002): <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i>“[...] O mesmo José Saramago
que um dia recebeu um enormíssimo ramo de flores numa homenagem promovida por
uma Câmara Municipal no Alentejo e não quis voltar para Lisboa sem primeiro
passar pelo Lavre para entregar o ramo à tua mãe para que o destino final
daquelas flores fosse a campa do teu irmão João, foi o mesmo que resolveu
apagar o nome do teu pai, da tua mãe, da tua irmã e de várias muitas outras
pessoas da primeira página do livro </i><b>Levantado do Chão</b><i>. E isto mesmo depois de ter
assegurado por escrito e por extenso – </i>Sem eles não teria sido escrito este livro<i>.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoBodyText3" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
[...] [Este texto] é no fundo
um texto de descoberta, de revolta e de repúdio por uma situação de morte civil
só comparável à acção dos fotógrafos de Estaline que faziam desaparecer das
fotografias várias pessoas inconvenientes e que, só anos depois se viria a
saber, não deveriam ter estado ao lado do ‘grande líder’. [...]</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i>[...] [Isto] para ir lembrar
o ano de 1976 quando tinhas apenas quinze anos de idade e um escritor quase
desconhecido entrou pela porta da casa dos teus pais para escrever um livro (</i><b>Levantado do Chão</b><i>) e para, muitos anos
depois, de modo totalmente inesperado e (para mim) injusto, vir fechar a
primeira página desse livro a quem lhe tinha aberto as portas da sua casa e do
seu coração.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A pouco e pouco o pano vai caindo.
E, não fossem influências de várias ordem – que nada têm que ver com a arte e a
literatura, mas com manobras relacionadas com dinheiro e com jogos políticos e
pessoais –, mais cairia ainda… Há cada vez mais homens e mulheres que concordam
com as palavras do poeta polaco C. Milosz (galardoado justamente com o prémio
Nobel). No momento em que Saramago recebia a distinção sueca, não teve papas na
língua e quebrou o unanimismo acrítico, afirmando que o autor de <b><i>Memorial
do Convento</i></b> não passava de “<i>um escritor de segunda ordem</i>”. Fosse o grande escritor polaco português e
chamar-lhe-ia, talvez, com Paulo Tunhas, “<i>um mau escritor talentoso</i>”. Eu
encontraria outros adjectivos, mas aqueles que se apresentam são suficientes
para qualificar quem viveu e quem escreveu naquele ser humano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ser famoso, como se deveria
saber, é bem diferente de ser importante. E não basta receber o prémio que mais
dinheiro oferece para se ser um escritor, um artista, inovador e um ser humano
exemplar. Como diz um velho provérbio, nem tudo o que luz é oiro – e às vezes
nem prata é.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
Ruy Ventura<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-3774517918360649132012-06-22T02:16:00.001-07:002012-06-22T02:21:50.957-07:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWqyxXFK2RfMTwy5TZcwu1-Bz0B75Qsnjezri9_QE78dKCWUMQygINgGQI4LdqkzByIRxv4XEyY3goHfaRdpAU5yqPBNTbtr9c3i8YS8KOUhkRZaQeXfH5YdtVYhV-qHqUP0Dams_67kE/s1600/livraria+barateira+1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWqyxXFK2RfMTwy5TZcwu1-Bz0B75Qsnjezri9_QE78dKCWUMQygINgGQI4LdqkzByIRxv4XEyY3goHfaRdpAU5yqPBNTbtr9c3i8YS8KOUhkRZaQeXfH5YdtVYhV-qHqUP0Dams_67kE/s640/livraria+barateira+1.JPG" width="640" /></a></div>
<h1 style="text-align: center;">
<span style="font-family: Garamond, serif;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></span></h1>
<h1 style="text-align: center;">
<span style="background-color: white; font-family: Garamond, serif; font-size: x-large;">GENEROSIDADE</span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> Foi
com sobressalto e desgosto que há poucas semanas me confrontei com o fecho de
um dos meus santuários lisboetas, a “Barateira”. Levada pela malvada “crise” e
por jogos que nem vale a pena qualificar, tão sujos são, este alfarrabista da
nossa capital era, em simultâneo, um templo da leitura e uma câmara do tesouro
– para quem tivesse a paciência e a persistência de demandar nas suas estantes
as mais valiosas preciosidades que o homem foi escrevendo e editando. Era um
lugar generoso. Pequenas quantias monetárias geravam, se o Espírito assim queria,
momentos inesquecíveis de prazer e de elevação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> Sempre
que posso, perco-me pelos alfarrabistas e por feiras de velharias, ao encontro
de livros importantes, raros ou esquecidos pelo tempo. Tenho para mim que
alguns livros antigos ou em segunda mão procuram os seus próprios donos. Não
somos nós que vamos na sua demanda, são eles que esperam por nós – aguardando a
nossa visita e a nossa atenção apaixonada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> Tenho
tido momentos felizes na minha paixão bibliófila. Entre os dias que recordarei
até ao fim da minha existência, estão vários que foram felizes porque nas suas
horas tive a honra de encontrar e poder levar para casa obras que (tenho a
certeza) há muito me esperavam. Seria difícil listar todos os livros que
consolaram os meus dias, todos esses momentos de encontro. A título de exemplo
posso citar, contudo, o primeiro livro do poeta portalegrense Carlos Garcia de
Castro, editado em 1955, que pertenceu ao enorme pintor surrealista Manuel D’
Assumpção, a primeira edição de <i>Claridades
do Sul</i>, de Gomes Leal, ou a antologia do Prémio Almeida Garrett, publicada
em 1957. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> Esta
última colectânea é um livro exemplar por razões que passo a expor. Atribuído
pelo Ateneu Comercial do Porto em 1954, só três anos mais tarde a antologia do
Prémio Almeida Garrett viu a luz do dia. O júri foi constituído por nomes que
dispensam apresentações: Afonso Duarte, João Gaspar Simões, Paulo Quintela e
Vitorino Nemésio. Foram 103 as obras concorrentes. O galardão coube a uma obra
de Miguel Torga. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;">Neste nome reside a
mais importante dimensão desta colectânea. Por estranho que pareça, não integra
um único poema do autor de <i>Poemas
Ibéricos</i>, uma vez que a obra teve edição autónoma. Não foi paga,
como seria de esperar, pelo Ateneu Comercial do Porto, que promovera o prémio. Foi
paga pelo primeiro premiado que, tendo conhecimento da alta qualidade de
algumas das obras que haviam sido preteridas em favor do seu livro, decidiu
abdicar do valor monetário que lhe era devido para proporcionar aos seus
colegas de letras (jovens ainda e inéditos em livro) as alegrias da publicação.
(É caso para perguntar: quantos poetas “medalhados” do nosso tempo teriam hoje
coragem para manifestarem uma tamanha generosidade?)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> A
história terminaria aqui se os autores antologiados no livro que veio acolher-se
à minha biblioteca fossem hoje ilustres desconhecidos. Acontece que, entre a
vintena de poetas aí incluídos, constam alguns poetas hoje indispensáveis no
edifício da Poesia Portuguesa Contemporânea. Entre eles, destacam-se Fernando
Echevarría, Cristovam Pavia, António Gedeão e, além deles, Fernando Vieira, José
Carlos Ary dos Santos (que autografa o livro) e alguns outros, com obra
estimável. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"> Estes
autores não tinham, em 1954, qualquer livro publicado. Tivesse Miguel Torga
guardado o dinheiro no bolso, banqueteando-se com ele, e qual teria sido o
destino da obra destes escritores, cuja poesia hoje reconhecemos? <o:p></o:p></span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-1570919770231083302012-06-22T02:12:00.000-07:002012-06-22T02:12:42.611-07:00<br />
<h1 style="line-height: 150%; text-align: center;">
A POESIA HUMILDE DE FÁBIO GOMES</h1>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"> </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> <span style="line-height: 150%;">É sempre com muita alegria que encontro um poeta até
então meu desconhecido, um daqueles criadores que colocou a sua vida ao serviço
das palavras. Rejubilo quando descubro a autenticidade verbal e existencial de
um Homem que, usando os recursos que tinha à sua disposição, tentou comunicar
uma visão peculiar do Universo. Não me interessam as circunstâncias que
rodearam o autor. Desejo apenas que os poemas sejam frutos saborosos e não
imitações plásticas fabricadas por um versejador mais ou menos habilidoso; “<i>versejadores
há-os em qualquer parte: nos bancos das tabernas e nas academias, nas leivas de
terra e nos jardins relvados, nos jogos florais e entre luxuosas
encadernações...</i>”, como escrevi num jornal em 2005. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Dum
verão vivido há uns anos, guardo a alegria de ter encontrado um poeta. Nunca
conheceu em vida o contentamento de um livro publicado. Pertence ao grupo dos
criadores de uma Poesia Humilde (próxima do húmus, da terra), a que João David
Pinto-Correia chamou “<i>tradicionalistas</i>”, porque se socorrem dos
instrumentos da tradição oral, comunicando através de uma linguagem simples,
mas autêntica. Chamou-se (chama-se) Fábio Gomes e nasceu em Aljezur a 31 de
Julho de 1911, tendo falecido em Lisboa no dia 5 de Junho de 1998. O volume
que, postumamente, guarda a sua produção poética intitula-se <b><i>Flores de
Outono</i></b> e foi editado, em boa hora, pela Junta de Freguesia da sua terra
e lançado no passado mês de Agosto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> É um autor
modesto que nos escreve: “<i>Não olhes para o poeta / Para saber se versa bem /
Na cara dele não se vê / O valor que a rima tem // [...] // Às vezes escrevo
com erros / Coisas que lembro da vida / Digo à pena os meus segredos / Escritos
em letra tremida</i>” (p. 180).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Ligado
à terra, exalta o valor de quem a torna fértil, comparando o seu trabalho com o
de um verdadeiro Artista: “<i>O artista cavador / Com as cores da natureza /
Pinta quadros de valor / Com realismo e beleza // [...] // Lindos pomares em
flor / Os trigais da cor do mel / As tintas foram suor / A enxada o seu pincel
// Com a enxada na mão / Dando vida à sua tela / Tirando da terra o pão / Faz a
sua obra mais bela</i>” (p. 59).</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Fábio
Gomes exprime com encantamento, com humor ou com mágoa, mas sempre com
frontalidade, a sua visão do mundo, seja natural ou humano. Satiriza o “<i>Carnaval</i>”
político, através de uma fábula em que um “<i>chibato orgulhoso / Com a sua
pêra imponente, / Pendura os óculos nos chifres / Foi eleito presidente!</i>”
(pp. 120 a 125). Manifesta desilusão, quando recorda os desmandos do pós-25 de
Abril: “<i>Estalou a revolução / Por todos tão desejada. / Eu sofri uma
decepção / Vi a minha terra ocupada. // Agora com a ocupação / Sou um zero, não
à direita, / Já não faço a sementeira / Nem sei nada da colheita.</i>” (pp. 194/195).
Nascido numa terra de gentes ligadas ao mar, personifica-o, para revelar os
muitos dramas que guarda: “<i>Numa noite tão serena / Chorava de dor o mar /
Será que ele tinha pena / De tanta gente matar?...</i>” (p. 88).</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Muitos
dos poemas são autobiográficos, como costuma suceder com boa parte da poesia
lírica, apesar das máscaras do fingimento. Sentimentos, emoções e memórias
ascendem à superfície do texto, de forma aberta ou velada. Adaptando um velho
provérbio à sua experiência, Fábio Gomes afirma: “<i>Há os que vivem chorando /
Levando a vida a cantar / Eu levo a vida cantando / Com o coração a chorar</i>”
(p. 200). Mostra-se então uma dor de existir que se reflecte na escrita (“<i>O
que tem a minha pena / Que de pena anda perdida / Será porque a minha pena /
Tem pena da minha vida?</i>” (p. 15)), vinda da consciência de um tempo que
passa e não regressa: “<i>O tempo passou por mim / Sempre a correr sem parar /
E eu à espera do tempo / Não vi o tempo passar.</i>” (p. 104).</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> “<i>Dizem
que perto da morte / É só quando o Cisne canta. / Serei eu também assim / Que
só agora no fim / Abri a minha garganta!? // [...] // Se estivesse em minha
mão, / Como Cisne eu queria ser. / Mostrar a minha alegria / Cantando uma
melodia / E depois de cantar, morrer.</i>” (p. 26). A poesia, nascida no entardecer
da vida, é para Fábio Gomes um canto de cisne – um canto de cisne que merece
ser conhecido por quantos apreciam uma poesia humilde e, logo, autêntica.</span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-34724937107424289252012-05-24T03:01:00.001-07:002012-05-24T03:01:56.902-07:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6XMR5CWpasKnUL5KxyTjC9c7YggW2GEvG74eHT1ermuxpDwYk9pazfKrRdN7gvoqJvU3755uNLv_1TZU8YFpUTo_TpWctAoQZRe2ZPVuDcS479rvPREBFYw-_w5_SvjI1acOEVk_EYlY/s1600/FADO-DO-ESTUDANTE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6XMR5CWpasKnUL5KxyTjC9c7YggW2GEvG74eHT1ermuxpDwYk9pazfKrRdN7gvoqJvU3755uNLv_1TZU8YFpUTo_TpWctAoQZRe2ZPVuDcS479rvPREBFYw-_w5_SvjI1acOEVk_EYlY/s640/FADO-DO-ESTUDANTE.jpg" width="640" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 150%;"><b><span style="color: #990000; font-size: x-large;"><br /></span></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 150%;"><b><span style="color: #990000; font-size: x-large;"><br /></span></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 150%;"><b><span style="color: #990000; font-size: x-large;">BORGAS E BALDAS</span></b><span style="color: #333333; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"><br />
Faz agora um ano que me vi
obrigado, por dever familiar, a assistir à “<i>bênção das pastas</i>” celebrada
no relvado da Cidade Universitária de Lisboa pelo cardeal-patriarca D. José da
Cruz Policarpo. Jurei que nunca mais lá porei os pés. Nem celebração, nem
bênção, nem qualquer coisa definida me pareceu tal aglomeração da espécie
humana. Missa terá sido, mas para poucos, pois noventa por cento virou-lhe as
costas. Festa, talvez, na ingenuidade de quem deita foguetes antes de ter
direito à alegria da concretização e de quem esquece, por momentos, que aquele
dia não é um fim, mas um começo. Tive a certeza de que a maior parte dos
assistentes preferiria estar no mesmo local, mas a assistir a um concerto de
certo cantor brejeiro do norte de Portugal, enfrascando umas imperiais e
fumando uns charros…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Confrontando-me
com este cenário, recordei com irónica nostalgia a letra de um "<i>hino do
estudante</i>" que os alunos da Escola Superior de Educação de Portalegre
costumam entoar: "<i>Os pontos requerem estudo,/ mas tu não estás nessa
onda,/ tu só queres é café, é café, é vadiagem.../ É vadiagem pela noite e
muitas baldas pelo dia,/ o estudo aperta e o curso é uma utopia.</i>"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Não
sei se noutras instituições do Ensino Superior os estudantes costumam cantar
pérolas deste quilate. Não tenho, contudo, grandes dúvidas ao afirmar que o
"<i>espírito académico</i>" apresentado pela letra é comum a uma
grande percentagem dos alunos das nossas universidades e institutos
politécnicos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Vindos
de um clima laxista que se instalou no sistema educativo português, muitos dos jovens
que entram no Ensino Superior desejam apenas serem "<i>estudantes</i>",
sem vontade alguma de estudarem. Sabe que o estudo é sinónimo de esforço e
exigência – realidades a que não querem adaptar-se, vindos de doze anos de
escolaridade em que podem ter "<i>empinado</i>" conteúdos, mas pouco
trabalharam para terem um pensamento crítico e informado sobre o mundo que os
rodeia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Chamar-me-ão
pessimista – mas basta lermos com uma atenção mínima as estatísticas que por aí
pululam para chegarmos a estas conclusões. Junto a esta leitura a experiência
que guardo dos anos que leccionei no Ensino Superior, recheada de exemplos de
alunos cujo único objectivo era a aquisição do "<i>canudo</i>" com o mínimo
trabalho - pois à frente da aquisição de um conhecimento enraizado estava
sempre uma outra meta: viver a "<i>vida académica</i>"... E qualquer
pessoa conhecedora do significado desta expressão sabe quais são os seus
sinónimos: "<i>vadiagem pela noite e muitas baldas pelo dia</i>",
como diz a letra acima citada, quantas e quantas vezes com álcool (e outras
substâncias) à mistura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Não
tomo a nuvem por Juno. Sei que existem milhares de alunos nas nossas
universidades e institutos que se esforçam por aprender e enriquecer os seus
conhecimentos. De igual modo, o conhecimento que tenho de algumas instituições leva-me
a dizer que as baldas e as borgas dos estudantes são apenas um elemento da face
negra da sua existência; há que considerar também a contratação duvidosa de
professores, a gestão clientelar de alguns departamentos na elaboração dos currículos
dos cursos e na planificação pedagógica das disciplinas. Mas a realidade é o
que é e basta conviver uns tempos numa dessas comunidades universitárias para
observar comportamentos que confirmam quanto digo (e não sou o único a
dizê-lo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;"> Neste
âmbito, nunca esquecerei a frase dita há alguns anos por uma amiga minha,
portuguesa que então estudava na Universidade de Paris-Nanterre: "<i>Mas
esta gente anda na universidade para estudar ou para passar o tempo em bares,
em discotecas, em concertos de música pimba, em desfiles e em carnavais?</i>"</span><span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="color: #333333; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ruy Ventura</span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-18394167795752757452012-05-15T00:25:00.000-07:002012-05-15T00:30:35.499-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaM1n9YkAmQbO9ko2tnm5CI8Wot901jS8BrkBWTUFjCWwRyybOg_jrdECEY3yAeEFUc-vbI3G8JXe6QkiB0dsgYD41Qw_7qSTBBZgH4VsG9X_prL7Pr8zRcsMns0g3ObZ5TyrmInlVIBA/s1600/Festival+Terras+sem+Sombra+2012+-+Programa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaM1n9YkAmQbO9ko2tnm5CI8Wot901jS8BrkBWTUFjCWwRyybOg_jrdECEY3yAeEFUc-vbI3G8JXe6QkiB0dsgYD41Qw_7qSTBBZgH4VsG9X_prL7Pr8zRcsMns0g3ObZ5TyrmInlVIBA/s1600/Festival+Terras+sem+Sombra+2012+-+Programa.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;">TERRA COM SOMBRA</span></b><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Se no princípio
do Universo esteve – como creio – a aliança entre o Pensamento e Palavra, só
pela Palavra e pelo Pensamento cresceremos no confronto e na aceitação do
mistério que nos transcende e nos rodeia. Só com a ajuda da sabedoria nascida
do Verbo (encarnado há cerca de dois mil anos) poderemos reconciliar-nos com o
Mundo, com o Outro e, sobretudo, connosco – neste tempo tão complexo, de
sociedade em crise, à procura de um novo paradigma civilizacional. Não
interessa se a Sabedoria nos chega por palavras, por imagens, por sons, por
movimentos ou pela contemplação do “<i>jardim
do mundo</i>”. Vale a pena tão só aceitar, entender e praticar com humildade os
seus atributos: “<i>há nela um espírito
inteligente e santo, / único, múltiplo e subtil, / ágil, penetrante e puro, /
límpido, invulnerável, amigo do bem e perspicaz, / livre, benéfico e amigo dos
homens, / estável, firme e sereno, / que tudo pode e tudo vê, / que penetra
todos os espíritos, / os inteligentes, os puros e os mais subtis</i>” (<i>Sabedoria</i>, 8: 22 – 23). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Verdade
seja dita que há também palavras que nos salvam ou que, pelo menos, nos
consolam. Lembro, por exemplo, quanto me pacificou, há uns anos, a dedicatória
inscrita por José António Falcão numa das suas mais belas obras (<i>A a Z – Arte Sacra da Diocese de Beja</i>,
2006): “<i>Este livro é dedicado a todos os
que, saindo do Alentejo, não o abandonaram</i>”. Alentejano exilado por vontade
alheia, na co-movente Península da Arrábida, tão simples frase teve a
capacidade de cauterizar feridas ainda recentes de alguém que continuava a
martelar a letra de um velho fado: “<i>Abalei
do Alentejo, / olhei para trás chorando. / Alentejo da minh’ alma, / tão longe
me vais ficando</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Já tive
oportunidade de manifestar a minha integral admiração pelo trabalho
desenvolvido no Baixo Alentejo pelo Departamento do Património
Histórico-Artístico da Diocese de Beja. Não vale a pena repetir razões, tantas
elas são. É contudo, importante, sublinhar o seu exemplo clarividente, em áreas
só aparentemente separadas da preservação e divulgação dos bens artísticos da
Igreja Católica. Bastará recordarmos a sua abertura ao Outro e ao mundo
poliédrico da Cultura contemporânea, a revitalização dos Caminhos de Sant’ Iago
no sul de Portugal ou o Festival “<i>Terras
sem Sombra</i>”, neste momento a decorrer na sua oitava edição. Mesmo no “<i>exílio</i>”, penso que todos os alentejanos
se sentirão serenamente felizes ao verem a sua terra como palco de um evento
musical com ecos espalhados pelo mundo fora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> É belo o
seu nome, “<i>Terras Sem Sombra</i>”. E
ainda mais belo ao revelar, aos ouvidos de quem o saiba entender, a essência da
espiritualidade do Alentejo – proposta ao Mundo. Para compreendermos esta “<i>terra sem sombra</i>”, tão minguada de
gentes, é preciso meditar os dois primeiros versos da quadra que deu origem ao
título: “<i>O Alentejo não tem sombra, /
senão a que vem do Céu.</i>” Não tem sombra material. É quase um deserto
(aquele deserto que tanto aproximou os homens de Deus, no confronto com o
interior e o exterior do seu ser). Tem apenas a sombra “<i>que vem do Céu</i>” (como diriam os místicos islâmicos heterodoxos). Ou
seja, o Alentejo possui a terra inteira dentro de si, porque toda a criação,
aos olhos do crente, é uma “<i>sombra de Deus</i>”,
uma manifestação da realidade divina. Abdicou – e transformou-se em rei de si
próprio (como diria Fernando Pessoa por Ricardo Reis).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Sem
sombra divina, não teria alma. Por isso me permito afirmar que a música do
espírito apresentada pelo Festival “<i>Terras
sem Sombra</i>” revela, na ausência de matéria, uma outra sombra que é, no
fundo, um símbolo da Vida, daquela que transcende a existência. Tem pois José
António Falcão toda a autoridade para espicaçar os ouvintes do festival com um
texto claro e perturbador na sua análise e nas suas propostas. Interpretando a
espiritualidade alentejana como proposta e exemplo, afirma no programa do
evento: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> “<i>Se o ‘tempo dos guerreiros’ e o ‘tempo dos
agricultores’ souberam reconhecer até que ponto a benevolência apaziguada e a
violência extrema se podem cruzar na natureza, o ‘tempo dos mercadores’
entregá-la-ia a uma pilhagem sem precedentes, exacerbada pela industrialização
, que conduz o planeta até à fronteiras do descalabro. […] Depois do caçador, do
lavrador, do metalurgista, do comerciante, emerge cada vez com maior nitidez a
imagem do cuidador de um jardim que, como arquétipo, se projecta sobre os
quatro pilares da sustentabilidade: ambiente, economia, sociedade, cultura. […]
Este jardineiro […] vislumbrado [por Charles Péguy] não será, afinal, o mesmo
que apareceu a Maria Madalena, junto ao túmulo, após a Ressurreição […]?</i>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt;"> Ameaçado
e em grande perigo, o planeta só salvará se os homens de boa vontade souberem
interpretar “<i>a sombra que vem do Céu</i>”
e cuidarem do “<i>jardim do mundo</i>” em
paz e harmonia. É, para isso, necessário, acolhermos o mistério da Vida e
percebermos que esse acolhimento só acontecerá se abrirmos no nosso interior o
espaço necessário, entrevendo – como refere J. A. Falcão – “<i>a essência criadora do nada</i>”, tão
próxima quando vivemos a boa, a bela e a verdadeira terra do nosso Alentejo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 14pt;">Ruy Ventura<o:p></o:p></span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-11667614600405066522012-05-02T01:14:00.001-07:002012-05-02T01:37:29.298-07:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje7iJYeOUNMqshl34FrzYlIBeIxlPVqIVJZoUIeyUZ99M7tcjCS2nF-cJx9BmpJamer60b2qV3kzU5FGcwu4SKPNfHyNd7LrTEQOhNLGcEXqglqcEaJfOZVUNtJ8T2k4BM34PDeffls74/s1600/cravo-aries.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje7iJYeOUNMqshl34FrzYlIBeIxlPVqIVJZoUIeyUZ99M7tcjCS2nF-cJx9BmpJamer60b2qV3kzU5FGcwu4SKPNfHyNd7LrTEQOhNLGcEXqglqcEaJfOZVUNtJ8T2k4BM34PDeffls74/s640/cravo-aries.jpg" width="480" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span style="color: red; font-size: x-large;"><br /></span></b></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span style="color: red; font-size: x-large;"><br /></span></b></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span style="color: red; font-size: x-large;">UM CRAVO SOBRE O ESTERCO</span></b><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<div style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> </span></span><span style="font-size: 14pt; line-height: normal; text-align: center;"> </span><br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<span style="font-size: 14.0pt;"> Hoje
resolvi reflectir sobre o 25 de Abril e das suas consequências. Entendi,
contudo, que qualquer das minhas palavras sobre o assunto pouco valeria frente
às frases de um democrata de esquerda, que conheceu o exílio e a perseguição da
ditadura. Assim se expressa: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<span style="font-size: 14.0pt;"> </span><i><span style="font-size: 16.0pt;">“Se alguém
quisesse acusar os Portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de
qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom
argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril. / […] havia dois
problemas […] a descolonização e a liquidação do antigo regime. / Quanto à
descolonização, havia trunfos para a realizar em boa ordem e com vantagem para
ambas as partes […]. / Todavia, o acordo não se realizou, e retirada não houve,
mas sim uma debandada em pânico, um salve-se-quem-puder. […] / O outro problema
era o da liquidação do regime deposto.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<i><span style="font-size: 16.0pt;"> […] impunha-se […] fazer o […]
julgamento [do regime], determinar as responsabilidades, discriminar entre o
são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. […] / […] o
julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as
acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou
eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente
denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira
por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo
mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial.
[…] / Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regime, como não se fez a
descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os mesmos não
substituíram os mesmos […].<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<i><span style="font-size: 16.0pt;"> […] falta ao regime que nasceu do 25 de
Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a
irresponsabilidade, a confusão foram as taras que presidiram ao seu parto e,
com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas […] nasceu
podre nas suas raízes. Herdou todos os podres do anterior, mais a vergonha da
deserção. E com este começo tudo foi possível depois […]: […] vieram os
contrabandistas […] e os falsificadores […] em lugares de confiança […]; veio o
compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; […] veio a
impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de
pressão, chamados partidos, a impossibilidade de estabelecer um critério que
joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o
considerar-se o endividamento como um meio “honesto” de viver. Os cravos do 25
de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera,
fanaram-se sobre um monte de esterco. / […] Portugal está hipotecado por esse
débito moral enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou.
As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se num futuro próximo,
merecemo-las, moralmente. / Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se
formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos
considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de nação
independente.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<span style="font-size: 14.0pt;"> Estas
palavras foram escritas em 1979 pelo historiador António José Saraiva. Poderiam
ter sido escritas em 2012. Hipotecados financeira e moralmente, quantas vezes
sem vergonha, continuamos a sofrer as consequências da irresponsabilidade, do
materialismo e do oportunismo que nunca nos largaram nestes últimos 38 anos.
Sofremos, mas somos responsáveis sempre que as nossas atitudes são indignas do
heroísmo e da ética demonstrados pelos nossos antepassados em momentos
luminosos da nossa História.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-size: 14.0pt;"> Ruy
Ventura<o:p></o:p></span></div>
</div>
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 115%;"></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 115%;"><span style="line-height: 115%;"> </span><span style="line-height: 115%;">Ruy Ventura</span></span></div>
<span style="font-family: Garamond, serif; line-height: 115%;">
</span></div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-49945939700739175392012-04-27T03:44:00.001-07:002012-04-27T03:47:05.960-07:00<br />
<b><span style="font-size: x-large;">TOPONÍMIA, ESPELHO DA SOCIEDADE</span></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpsXVESp7kqyEGk_eg_P35ahCRLrr-vDMCsK-XbYoHOslW45ad07hrVZQShV7MpxlzqrsUhy6qtTaiGhT-fbjiPBkeqDnjIUK_zf-GeWF-k0o4Bh26WiTzIsnE7GLFwiEqiCSkfys3ues/s1600/405.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="352" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpsXVESp7kqyEGk_eg_P35ahCRLrr-vDMCsK-XbYoHOslW45ad07hrVZQShV7MpxlzqrsUhy6qtTaiGhT-fbjiPBkeqDnjIUK_zf-GeWF-k0o4Bh26WiTzIsnE7GLFwiEqiCSkfys3ues/s640/405.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
Desde meados do século XIX que a nomeação das ruas e de outros lugares tem sido utilizada para difundir ideais políticos, para afirmar os poderes vigentes ou para reproduzir a sociedade, os seus valores e as suas clivagens. Paralelamente, tem constituído uma maneira de homenagear quantos pugnaram por uma comunidade ou dignificaram a identidade local ou nacional. De um lado, temos o caciquismo, o imobilismo e a estratificação sociais, a propaganda a regimes e a políticas. Do outro, os valores universais da solidariedade, da doação e da dignificação do Homem, ao lado do interesse colectivo e dos laços de agregação identitária. <br />
<br />
Não conhecemos qualquer aldeia, vila ou cidade que tenha passado ao lado deste modo de fabricar topónimos. Ao lado de valores incontestáveis da literatura e da arte, da doação aos outros, do desporto, da identidade nacional, da luta pela dignificação social da espécie humana e de marcos de inegável importância na História local, nacional e internacional, vemos por esse país fora a imposição de caciques e figurões locais, a homenagem a agentes económicos duvidosos e a propaganda aos mais diversos regimes e partidos, ao lado da apologia de atitudes, datas e figuras de que há muito nos deveríamos envergonhar. Em bastantes localidades chega-se ao esquecimento (verdadeiro ou fabricado) de figuras cimeiras e de efemérides importantes, substituídos pelos nomes de personalidades com relevo discutível ou até mesmo improvável.<br />
<br />
Estamos ainda a tempo de remediar os erros do passado, assim haja vontade para tal. <br />
<br />
Uma ideia exequível seria inaugurar por esse país fora um processo inédito de selecção dos topónimos a atribuir a novos arruamentos. Um processo realmente democrático: ouvir os cidadãos, as suas propostas, as suas opiniões. E deixar de ouvir apenas os membros das Comissões Municipais de Toponímia, cuja actividade muitas vezes se situa entre a passividade e a ignorância, nomeadamente quando autorizam a substituição em centros históricos da toponímia funcional e antiga (a única verdadeira), por homenagens quantas vezes contingentes ou ridículas.<br />
<br />
Aliada a esta, outra medida para tornar completamente transparente este processo de "canonização civil" seria adoptar procedimentos similares aos da canonização religiosa: instituir um "advogado do diabo" que exigisse provas da relevância da personalidade a homenagear, sem as buscar apenas junto de sabichões, que apenas sabem orientar os seus interesses, ou junto daqueles que em vida, por esta ou por aquela razão de proximidade, dependeram do visado. As precauções são necessárias. A História já nos provou vezes suficientes que o ditado popular é verdadeiro: as aparências iludem e aquilo que parece ouro por vezes nem prata é!<br />
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Verdade seja dita que não concordo com o método de nomeação que, nos últimos 150 anos, tem multiplicado designações artificiais e arbitrárias por esse país fora. Tais nomes, por mais dignas que sejam as personalidades ou as datas, nunca serão topónimos, além das suas circunstâncias passageiras. Têm tanto valor quanto aqueles que lemos nas lápides dos cemitérios. Ao longo de muitos séculos a denominação dos lugares nasceu sempre da sua interpretação, da leitura das suas características, das suas evidências materiais ou sociais, permanentes ou prolongadas. Os nossos antepassados sempre o fizeram com sabedoria. Saibamos nós, hoje e no futuro, aprender com eles. <br />
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Ruy VenturaRuy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2779707007621569538.post-84650843111169239042012-04-18T01:10:00.000-07:002012-04-18T01:10:34.828-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBlA5rRQbwRJ_3GuV7AGjYXSPhAcQgY3mE-0YQ-M0DfcX8jh2WeAB1d4RVqbL_Je7pddiyeyPyWixQuF0YcgXj3iiUkkdEkq3yk0AY9-RRp92PaECnRjXJdRuHZ9kqxH7SREaS17xIPF0/s1600/Escola_conde_ferreira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="524px" qda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBlA5rRQbwRJ_3GuV7AGjYXSPhAcQgY3mE-0YQ-M0DfcX8jh2WeAB1d4RVqbL_Je7pddiyeyPyWixQuF0YcgXj3iiUkkdEkq3yk0AY9-RRp92PaECnRjXJdRuHZ9kqxH7SREaS17xIPF0/s640/Escola_conde_ferreira.jpg" width="640px" /></a></div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><br />
</div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><br />
</div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><strong><span style="font-size: x-large;">ESCOLHER COM CORAGEM</span></strong></span></div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><br />
</div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><br />
</div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><br />
</div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Mais do que tudo é preciso ter a coragem de escolher. Dizem as velhas tradições que, perante um touro bravo, só há três caminhos: pegá-lo de caras, pegá-lo de cernelha ou fugir.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">E a Educação neste país é não é rês mansa. Não por culpa, exclusiva, do Ministério, da sociedade, dos professores, dos sindicatos, dos pais, dos alunos. Por culpa de todos, não tanto por actos mas pela omissão de agir.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">É mais cómodo fechar os olhos àqueles que desejam instrumentalizar a instituição educativa. A tutela, que nada faz para manietar aqueles que desejam o sucesso educativo a todo o custo, para o exibirem como troféu. Os sindicatos, que continuam a pôr à frente do que deveria ser a sua missão preconceitos ideológicos ou partidários. Os professores, que se aquietam perante a necessidade de agirem no sentido de impor a autoridade que ainda têm, que continuam a optar pelo espectáculo escolar e não pela promoção do conhecimento. Os pais (muitos, mas não todos, felizmente), que ainda não perceberam que a solução não está na facilidade mas na exigência. A sociedade, que continua a ver a Escola como bode expiatório e como caixote do lixo.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">É preciso escolhermos todos de que lado queremos estar. Podemos fugir, é certo. Mas também podemos pegar o touro (de caras ou de cernelha) e melhorar um pouco este país.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">O problema da Educação em Portugal não está nos cortes na despesa (ainda que injustos). O problema está no entretenimento, na ligeireza e no novo-riquismo que povoa muitos estabelecimentos, desmobilizando a melhor parte dos membros da comunidade educativa, afastando-os daquilo que é a sua missão: fazer crescer as crianças e jovens no conhecimento e na cidadania.</span></div><div align="center" style="background: white; line-height: 150%; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">*</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Ser professor, desde sempre, implicou resistência. Formatados para formatarem, os professores tiveram sempre de resistir para não serem transformados em meras ferramentas de sistemas sociais, políticos e económicos que os têm visto como correias de transmissão de moldes de ser, de estar e de fazer. Ora, educar consiste, sobretudo, em formar cidadãos para uma Cultura interventiva e para uma Cidadania activa, ou seja, em fazer crescer para o usufruto da participação na Democracia. Instruir e educar são patamares diferentes numa mesma ascensão civilizacional e cultural.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Nos difíceis dias que correm, o professor tem de pôr em prática a sua capacidade de resistência múltipla. Num período histórico em que várias formas de autoritarismo e de despotismo tentam regressar envolvidas por um capote atraente (televisivo, publicitário, legislativo, etc.), o docente tem de ser "simples como as pombas, mas astuto com as serpentes" (para citar de memória uma passagem do "Evangelho segundo Tomé"). Só assim conseguirá cumprir eficazmente a sua missão.</span></div><div style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Para isso, terá de gerir prioridades (diluindo, se necessário, todas as tarefas supérfluas que lhe são impostas para o distrair do essencial) e criar uma segunda pele que lhe permita viver e enriquecer-se enquanto pessoa. Sem Vida e sem Riqueza nunca passará de molde plástico que, a pouco e pouco, apagará a dignidade dos seres humanos que lhe passam pelas mãos, impedindo-os de serem livres na crítica e na actuação cívica.</span></div><div align="right" style="background: white; text-align: right;"><br />
</div><div align="right" style="background: white; text-align: right;"><br />
</div><div align="right" style="background: white; text-align: right;"><span style="color: #333333; font-family: 'Garamond','serif'; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Ruy Ventura</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div>Ruy Venturahttp://www.blogger.com/profile/08251417467614404191noreply@blogger.com0